Biodiversidade brasileira: um tesouro que ações pontuais tentam salvar
2007-01-05
A riqueza da flora e da fauna brasileiras é lembrada em duas datas no país. Pesquisas apontam que a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu 22 de maio como o “Dia Internacional da Diversidade Biológica”. Mas 29 de dezembro também figura como “Dia da Biodiversidade” em vários calendários ambientais.
Essa duplicidade de atenções não livra o país, contudo, de amargar percentuais vergonhosos de perdas nesse campo. Segundo dados do Ministério do Meio Ambiente, estão ameaçadas de extinção no Brasil 25% das espécies de mamíferos; 11% das aves; 20% dos répteis; 34% dos peixes; 25% dos anfíbios e 12,5% de todas as plantas (cerca de 34 mil espécies).
Tais índices tornam-se ainda mais alarmantes posto que o Brasil concentra 20% do total de espécies do planeta, sendo 24% de primatas; 10% de mamíferos e anfíbios; 17% das aves já descritas e 22% das espécies da flora mundial.
Projetos pontuais como o Tamar, de proteção às tartarugas marinhas, desenvolvido pelo Ibama em parceria com a Petrobras, conseguem imprimir algumas cores a esse quadro de nuances sombrias. Até o ano de 2005 (último período de resultados informado no site), cerca de 7 milhões de filhotes de tartarugas marinhas tinham sido liberados ao mar, desde o início da atuação do projeto, em 1980.
A extinção de espécies da flora e da fauna não é um evento incomum. Ocorre ao longo dos tempos de forma natural, em função de mudanças climáticas - da falta de adaptação a elas e a outros fenômenos cíclicos. Foi um episódio desses, no fim do período cretáceo, que dizimou os dinossauros.
Mas a intervenção humana tem levado os níveis de extinção a patamares nunca antes observados. Destruição de habitats – com desmatamento e queimadas -, caça indiscriminada, pesca predatória, poluição e outras mazelas contemporâneas desenham um panorama de devastação ambiental cujos riscos já beiram a irreversibilidade.
O Fundo Brasileiro para a Biodiversidade – Funbio -, ONG criada há dez anos para promover conservação e uso sustentável dos recursos naturais no país, já ajudou a viabilizar financeiramente dezenas de iniciativas nesse sentido, em todas as regiões.
Até 2006, o Funbio apoiou 62 projetos, em 17 estados, repassando em torno de US$ 10 milhões a cooperativas, associações comunitárias, universidades, empresas e entidades do terceiro setor, para trabalhos em favor da biodiversidade.
Um exemplo bem sucedido está no projeto que tem como objetivo a preservação do mico-leão preto e a conservação de áreas florestais prioritárias do interior paulista, habitat dessa espécie. Numa parceria entre o Funbio e o Instituto de Pesquisas Ecológicas - Ipê -, as ações têm aumentado a proteção à espécie e os resultados já são visíveis. Da categoria de “criticamente ameaçada”, agora já pode se enquadrar em “ameaçada”, descendo um degrau na escala que segue rumo à extinção.
"Os projetos apoiados pelo Funbio até hoje foram bastante significativos em nível local e como instrumentos para testagem de modelos, como projetos-pilotos de conservação e uso sustentável da biodiversidade", disse a AmbienteBrasil Pedro Leitão, secretário geral da ONG, admitindo que as iniciativas não conseguiram, porém, fazer frente ao ritmo acelerado da destruição ambiental, que caminhou a passos largos.
"Diante disso, percebemos que hoje é necessária uma mudança na forma de apoio, um aumento na escala territorial, no volume de recursos e no envolvimento dos agentes", antecipa Pedro. "No ritmo em que se encontra a degradação da biodiversidade, a escala dos projetos de conservação deve ser proporcional à escala dos problemas. E o setor que atualmente tem mais condições de propor soluções e enfrentar situações complexas é o setor privado", analisa.
Potencial econômico
É um bom alvitre que torçamos todos pela excelência destes resultados. A biodiversidade fornece ao planeta alimento, combustível, estabilização e moderação do clima, renovação da fertilidade do solo, recursos genéticos e controle de pragas e doenças, entre outras bençãos. Agora, especificamente no Brasil, começa a ser pensada também como alavanca para a geração de emprego e renda, a partir de seu uso sustentável,
Um levantamento do Ministério do Meio Ambiente, feito por equipes especializadas nas cinco regiões do país, com recursos do Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica Brasileira – Probio -, revelou que o país possui 775 “plantas do futuro”, espécies cuja exploração – sustentável, é bom repetir - pode se transformar em produtos atraentes aos mercados interno e externo.
Entre elas, 148 são espécies de plantas ornamentais, 70 com características alimentícias e frutíferas, 99 com potenciais medicinais, nove são adequadas para a fabricação de aromas e 31, de óleos.
Este ano, o MMA planeja realizar seminários regionais para apresentar as potencialidades desses recursos naturais aos diferentes segmentos da sociedade.
(Por Mônica Pinto, AmbienteBrasil, 05/01/2007)
http://www.ambientebrasil.com.br/noticias/index.php3?action=ler&id=28744