UE prepara plano para alavancar mercado de álcool na Europa
2007-01-05
A UE - União Européia - prepara um amplo pacote de políticas para incrementar o mercado de etanol nos 27 países do bloco. O anúncio ocorrerá em Bruxelas na semana que vem e incluirá novas metas de uso do biocombustível entre os países europeus, em parte substituindo aos combustíveis fósseis e reduzindo a dependência em relação às importações de petróleo.
Para diplomatas em Bruxelas, a criação de um mercado de álcool na Europa terá um impacto direto na produção brasileira, já que os próprios europeus reconhecem que terão de importar do País no futuro para abastecer seu mercado.
Nesta semana, a França iniciou a instalação de postos de gasolina que também oferecerão álcool em todo o país. Alemanha, Polônia e Suécia também já contam com o combustível. Na quinta-feira, na Inglaterra, a comissária para a Agricultura da UE, Mariann Fischer Boel, confirmou que a Comissão Européia irá subsidiar usinas de açúcar que queiram se transformar em usinas de álcool, além de destinar recursos de programas de ajuda rural para agricultores que queiram seguir esse caminho.
Na Europa, porém, o etanol é apenas competitivo quando o barril do petróleo estiver acima de 90 euros. Com um valor de 60 euros por barril de petróleo, portanto, a produção de etanol consegue a duras penas sobreviver na UE. Não por acaso, as tentativas feitas até agora pela UE para implementar o uso do etanol não tiveram o sucesso esperado. Muitos países não chegar sequer aos índices sugeridos pela Comissão para o uso do biocombustível entre suas fontes de energia.
Diante dessa situação, Bruxelas decidiu anunciar que novas formas de financiamento serão adotadas para facilitar a adoção do novo combustível pelos agricultores europeus. "Claramente, o biocombustível não irá superar os combustíveis fósseis de um dia para o outro", afirmou Fischer Boel, que admite que o setor rural europeu ainda está cauteloso com as perspectivas de ganho do etanol. "Mas estamos tomando uma atitude estratégica em relação ao setor", explicou a um grupo de agricultores britânicos.
O projeto que será divulgado na semana que vem ainda é visto como um "novo incentivo" para que o setor agrícola europeu comece a pensar no etanol como uma solução, já que parte da produção tradicional está se tornando cada vez menos competitiva com as perspectivas de cortes de subsídios, entre elas o de açúcar de beterraba. Segundo ela, os produtores que optaram pelo etanol já estão ganhando dinheiro. Em um ano, a produção aumentou em 60%, atingindo 4 milhões de toneladas de biocombustível.
"Esse projeto deve dar ao setor um novo impulso", garantiu Fischer Boel, que aponta que cabe a cada país do bloco decidir se aceitará cortar impostos para a produção local de etanol. Na França, o governo aboliu todos as taxas para que quiser produzir e vender o álcool e espera, até o final do ano, ter 500 postos de gasolina funcionando em todo o país. Para 2010, a meta da França é de que o etanol corresponda a 7% do consumo de combustível no país. Em um levantamento feito pelo governo francês, 89% dos entrevistados afirmam que estavam dispostos a trocar seus carros por veículos com motores bicombustíveis.
A estratégia dos europeus a partir de agora será a de autorizar o funcionamento do mercado, enquanto financiam novos projetos. Outro pilar da estratégia é o desenvolvimento de uma nova geração de etanol, que seria mais competitiva que a que se usa no Brasil. Segundo Fischer Boel, o novo mercado de etanol na Europa, mesmo com os incentivos, não conseguirá ser abastecido inteiramente pelos produtores da região. A comissária admite que terá de importar etanol, principalmente do Brasil, uma vez que o mercado esteja em pleno funcionamento.
(Por Jamil Chade, Estadão Online, 04/01/2007)
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