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2007-01-03
Um dos principais objetivos da criação do Jardim Botânico de Manaus, localizado na zona Leste da capital amazonense, foi conter a pressão urbana causada, principalmente, pelas ocupações indevidas no entorno da Reserva Adolpho Ducke. Mas, somente a criação do espaço físico não era suficiente para solucionar a questão. Faltava algo. Havia a necessidade da participação das pessoas na preservação e conscientização sobre a importância da manutenção da reserva. Desta forma, o projeto Comunidade no Jardim Botânico, realizado pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCT), consolidou-se como uma iniciativa na área de educação ambiental aglutinando os moradores com o mesmo objetivo: a preservação.

Segundo o responsável pelo projeto e servidor da Coordenação de Extensão (COXT/Inpa), Jorge Lobato, o trabalho chega ao quarto ano consolidado com uma das mais importantes ações de sensibilização ambiental da população da cidade. “Somente neste ano, o projeto atendeu cerca de 30 comunidades da periferia de Manaus, além de 500 alunos do ensino fundamental da Escola Municipal Marcílio Junqueira, localizada no bairro Monte Sião. Também já participaram das atividades, durante os quatro anos de existência, aproximadamente 12 mil pessoas”, comemorou.

Questionado se o projeto é uma ação pontual e assistencialista, Lobato disse que pode até ser sob a ótica de algumas pessoas, mas para a maioria, as ações como apresentações culturais, caminhadas nas trilhas, oficinas de reaproveitamento de garrafas plásticas (PET), pintura, distribuição de mudas, dicas ambientais, entre outras, são a única saída para que homens, mulheres, crianças e idosos sintam-se incluídos e importantes perante à sociedade.

Mesmo com ações pontuais, Lobato destacou que as evidências apontam para um valor intrínseco de inclusão e de cidadania. Ele disse que funciona como motivador e desencadeador de outras proposições, por exemplo, solicitação de participação em outros programas e atividades; orientações de plantios e arborização nas comunidades; palestras de cunho ambiental, retorno às unidades visitadas.

“Acreditamos que o projeto ajuda a socializar a informação científica produzida pelo Inpa, pois leva o conhecimento a quem não tem acesso. Portanto, essas ações são introdutórias de novos olhares, novos pensamentos, novos comportamentos, novos valores, tentando de alguma forma incluir os excluídos, e, nessa inclusão, resgatar a crença no ser humano como ser capaz de mudar e construir uma nova história, um mundo melhor”, afirmou.

Ele disse que a preocupação com a disseminação do conhecimento tem sido objeto de reflexões e de estudos por parte dos pesquisadores do Instituto. Devido a isso, há um apelo para maior integração entre os saberes existentes e a aplicação dos mesmos na melhoria da qualidade de vida da população amazônica, ou seja, atender às demandas regionais. “Apesar do volume de produção científica, da interação internacional, da qualidade dos pesquisadores e seu trabalho, o Inpa ainda precisa ter um impacto maior sobre o desenvolvimento da região amazônica à altura de seu potencial”, ressaltou.

Segundo Lobato, um dos locais propícios para a interação entre pesquisa e sociedade são os parques, bosques, áreas verdes da cidade, os quais têm sido alvo de desmatamentos, culminando na diminuição da cobertura vegetal. “A cidade carece de locais para lazer com fins educativos. Portanto, a criação do Bosque da Ciência (1995), do Jardim Botânico (2000) e do Parque do Mindu são alternativas aos anseios do próprio contexto social. O Bosque da Ciência foi projetado para fomentar o desenvolvimento do programa de difusão científica e educação ambiental do Instituto, por exemplo. Hoje, ele firma-se como um dos principais centros de informações científicas disponíveis à comunidade e está inserido no roteiro turístico de Manaus”, esclareceu.

Em relação à continuidade do projeto Comunidade no Jardim Botânico em 2007, ele disse que com as experiências anteriores realizadas tanto no Bosque da Ciência quanto no Jardim Botânico, foi montando um novo projeto chamado “Circuito da Ciência”. Ele irá reunir as duas atividades somente em uma e será realizado em ambos os locais, que foram criados com o mesmo objetivo: fomentar e promover o desenvolvimento de programas de difusão científica e educação ambiental, mantendo a integridade física da área e os aspectos da flora e fauna amazônicas.

“Estes dois espaços oferecem inúmeras possibilidades de opção de lazer, informação e entretenimento. Tais aspectos são apropriados, pois permite aos moradores participar das múltiplas experiências sócio-educativas. Verifica-se que esses ambientes são o único espaço em que homens e mulheres se sentem excluídos e importantes. Temos que valorizar mais a pessoa enquanto sujeito co-participante de uma sociedade melhor, mais equilibrada sócio-ecológico e culturalmente”, enfatizou.

Segundo ele, depoimentos como o da aposentada Terezinha Oliveira, 77 anos, moradora do bairro Nova Floresta demonstram a importância do projeto Comunidade no Jardim Botânico e, agora, do “Circuito Ciência”. “Quando vejo uma vizinha jogando lixo pela janela, chamo a atenção dela. Já não basta a gente ser pobre, ainda vai ser chamado de imundo”, comentou. Outra participante Betânia Lúcia Sousa de Carvalho, 33 anos, moradora do bairro Tancredo Neves falou que antes não tinha noção sobre educação ambiental. “A gente, às vezes, não sabe o mal que causamos à natureza e a nós mesmos”, afirmou.

Hoje, o Comunidade no Jardim Botânico é desenvolvido pela Coordenação de Extensão em parceria com o Laboratório de Psicologia e Educação Ambiental, ambos do Inpa. E também conta com a participação da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma), Secretaria Municipal de Saúde (Semsa), Secretaria Municipal de Limpeza e Serviços públicos (SemulSP), Secretaria Municipal de Educação (Semed) e Projeto Consciência Limpa (Rede Amazônica). O apoio é da Petrobrás, Moto Honda da Amazônia, Masa, Magistral, Pães Brothers, Kabala Alimentos, Café Manaus, Séculus da Amazônia, Sesc do Amazonas e Rio Negro Transportes e Logística.

Como participar
O primeiro passo é o cadastramento das comunidades e/ou escolas. Tal procedimento é realizado em parceria com as Assistentes Sociais do Programa Médico da Família da Prefeitura e com os professores da Semed. Após o convite e os contatos iniciais feitos pelas Assistentes Sociais e professores, o responsável do projeto com seus estagiários vão a comunidade participante daquele mês para perceber o grau de interesse e a demanda, além de algumas explanações de ordem operacional sobre o projeto.

O segundo passo é a visita ao Jardim Botânico e Bosque da Ciência, onde ocorre toda uma programação envolvendo visita guiada nas trilhas, palestras e atividades lúdicas e culturais. Vale ressaltar que é dado prioridade à Comunidades das zonas Norte e Leste, pois são pessoas que têm pouco acesso a espaços dessa natureza, além de estarem mais próximas geograficamente da Reserva Ducke/Jardim Botânico e Bosque da Ciência.
(por Luís Mansuêto, Agência MCT, 02/01/2007)
http://agenciact.mct.gov.br/index.php/content/view/42734.html

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