Uso de entulho reciclado torna-se obrigatório em São Paulo
2007-01-03
O prefeito de São Paulo assinou na última quinta-feira (28/12)
o decreto que torna obrigatório o uso de material proveniente da reciclagem
de entulho nas obras e serviços de pavimentação de vias públicas na Capital.
A cidade de São Paulo gera cerca de 17 mil toneladas de entulho diariamente.
Nos três aterros de inertes contratados pela Prefeitura são recebidas cerca
de 3,8 mil toneladas de entulho, levadas por empresas cadastradas no
Departamento de Limpeza Urbana (Limpurb) e pela própria Prefeitura.
"É um momento muito especial no combate à degradação do meio ambiente. Essa
medida é uma continuidade da instalação dos Ecopontos, que fornecem o
principal fator de seleção desses entulhos. A prioridade será para o uso
desse material reciclado na mistura empregada em obras de pavimentação e
recapeamento, para que possamos resolver este que é um dos principais
problemas das grandes cidades, o entulho e o lixo", afirmou o prefeito.
"São as subprefeituras que mais sofrem com o problema do entulho. São mais
de 15 mil toneladas de entulho por dia na cidade de São Paulo, a mesma
quantidade que é descartada de lixo orgânico e industrial, diariamente. As
subprefeituras precisam, freqüentemente, retirar entulho das calçadas, de
córregos, lixo descartado irregularmente que causa problemas de assoreamento
nos rios e agrava as enchentes", explicou o secretário do Verde e Meio
Ambiente.
Estima-se que no Brasil esse tipo de entulho represente de 41% a 70% dos
resíduos sólidos urbanos. Essa grande massa de resíduos, quando mal
gerenciada, degrada a qualidade da vida urbana e sobrecarrega os serviços
municipais de limpeza pública.
O uso dos agregados reciclados em camadas de base, sub-base ou reforço do
subleito do pavimento em substituição aos materiais convencionais, já é
amplamente adotado em alguns países. O entulho da construção civil, na
maioria das vezes, não recebe solução adequada, impactando o ambiente
urbano, tornando-se meio propício à proliferação de doenças e contribuindo
para o aumento dos problemas de saneamento.
O decreto prevê que no período máximo de 180 dias, contados a partir da data
da publicação, as contratações das obras e serviços de pavimentação de vias
deverão prever, em seus projetos, especificações técnicas que contemplem, em
caráter preferencial, o emprego dos agregados reciclados. Passado esse
prazo, as contratações de obras e serviços de pavimentação deverão prever em
seus projetos especificações técnicas que contemplem, obrigatoriamente, a
utilização dos materiais reciclados.
A ação é justificada pelo volume de produtos e subprodutos de mineração
utilizados em obras de pavimentação e serviços contratados pelo Poder
Público, provenientes especialmente de empreendimentos minerários da região
metropolitana, e pelos benefícios que a utilização de resíduos sólidos da
construção civil reciclados proporcionará ao meio ambiente, gerando economia
de matéria-prima virgem não renovável.
Além disso, as áreas destinadas ao transbordo e triagem de resíduos sólidos
da construção civil podem garantir o fornecimento de materiais em quantidade
suficiente para abastecer as obras e serviços de pavimentação das vias
públicas da cidade.
Ficam dispensados do cumprimento das disposições deste decreto obras e
serviços de pavimentação de vias executados em caráter emergencial, ou ainda
nos casos em que a utilização dos agregados reciclados seja tecnicamente
inviável ou na ausência, no mercado, de material com as características
apontadas. Em todos esses casos, o não emprego dos agregados reciclados
deverá ser justificado por meio de estudo técnico demonstrativo da
inviabilidade de atendimento aos critérios estabelecidos.
Os agregados reciclados a serem empregados na pavimentação das vias públicas
deverão seguir os critérios estabelecidos pelas diretrizes da Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), obedecendo ainda às disposições
constantes da Especificação Técnica de Serviços ETS nº 001/2003 - camadas de
reforço do subleito, sub-base e base mista de pavimentação com agregado
reciclado de resíduos sólidos na construção civil -, publicadas no Diário
Oficial da Cidade em março de 2003.
A produção de grandes volumes de materiais de construção e a atividade de
canteiro - construção, manutenção e demolição - são responsáveis por cerca
de 20 a 30% dos resíduos gerados pelos países membros da União Européia.
Este percentual corresponde a um valor compreendido entre 221 e 334 milhões
de toneladas por ano. Nos EUA, segundo a Agência Ambiental Americana (EPA),
são geradas aproximadamente 136 milhões de toneladas de entulho por ano. Lá,
há cerca de 3.500 unidades de reciclagem de entulho; correspondem a cerca de
25% do total desse tipo de material reciclado. Na Europa, a média de
reciclagem é de 28%. Nos Países Baixos, esta é bem mais alta: em 2000, foram
aproveitados 90% dos resíduos da construção, 16,5 milhões de toneladas.
A coleta do resíduo de construção e demolição é um negócio estabelecido, com
um grande número de empresas privadas, trabalhando tanto para as prefeituras
quanto para a iniciativa privada. O transporte e a deposição de parte destes
resíduos oneram os cofres municipais. A reciclagem dos resíduos de
construção para a produção de agregados torna-se uma alternativa
interessante. A Administração Municipal de São Paulo, sensível a esta
questão desde 2003, já conta com itens de serviços que empregam o agregado
reciclado de construção e demolição em suas Tabelas de Custos Unitários de
Obras e Serviços (da Siurb).
As empresas que trabalham com resíduos de construção civil diziam que a
cidade tinha poucas áreas para a disposição do material. Por isso a
secretaria contratou, em setembro de 2006, mais dois aterros de inertes.
Agora são três (Parelheiros, Freguesia do Ó e Parque Novo Mundo), mais duas
áreas para transbordo de inertes (Itatinga e Vila Leopoldina).
O edital para a contratação de cinco aterros de inertes, um para cada região
da cidade, está em andamento. Nele está previsto que cada aterro mantenha
uma máquina recicladora para o reaproveitamento do inerte. Com isto, as
subprefeituras poderão utilizar o material sem custos para a Prefeitura.
Atualmente, são gastos cerca de R$ 3 milhões mensalmente para recolher,
transportar, transbordar e destinar os resíduos inertes.
Ecopontos
Recolher o lixo reciclável e encaminhá-lo, evitando assim a proliferação de
"lixões", é o objetivo dos Ecopontos instalados na cidade de São Paulo.
Trata-se de uma solução para acabar com o despejo desses materiais em vias
públicas, rios e terrenos baldios, que acabam por gerar problemas de
enchentes, saúde pública e onerando o orçamento municipal. Além disso, as
unidades encaminham para triagem materiais recicláveis como papel, metal e
plástico. Os Ecopontos não recebem lixo domiciliar, industrial e hospitalar.
Além de receber resíduos da construção civil como cimento, entulho e tijolo,
restos de azulejo e de madeira, os Ecopontos também podem servir para
recolher móveis velhos, sobras de poda de árvore e outros materiais
volumosos. Atualmente, o Limpurb, da Secretaria Municipal de Serviços, tem
em operação sete unidades - Bresser, Pinheiros, Imperador, Padre Nogueira
Lopes (Pirituba), Santo Amaro, Tatuapé e Cupecê - e outras 48 estão
previstas ou já com obras em andamento.
O serviço é gratuito, mas existe limite de recebimento diário de um metro
cúbico por pessoa. Esse volume de entulho equivale aproximadamente a 25% de
uma caçamba ou a uma caixa-d'água de mil litros. O grande gerador de entulho
deve contratar uma empresa especializada em serviços de coleta e transporte
desse material e certificar-se de que ela mantém cadastro no Limpurb. Assim,
o gerador garante que seu entulho vá para um local adequado, e não para um
aterro clandestino.
(Envolverde/Prefeitura de SP, 02/01/2007)
http://www.envolverde.com.br/materia.php?cod=26237&edt=1