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2006-12-30
A Europa, a Rússia, o Irã, os Estados Unidos, a Índia, a China, a África do Sul, o Brasil, a Austrália... Para onde quer que as atenções se voltem, nenhuma região do planeta escapa, em seus debates sobre a energia, da "contaminação" nuclear.

Pela primeira vez, a Comissão Européia começa a argumentar em favor desta fonte de energia, mas de maneira discreta o suficiente para não melindrar de cara os Estados-membros que programaram o fechamento das suas centrais atômicas. Por sua vez, países produtores de gás e de petróleo tais como a Rússia e o Irã querem desenvolver o átomo civil para produzir a sua eletricidade e reservar para a exportação esses hidrocarbonetos que garantem uma grande parte das entradas de divisas.

Na UE, o fim de um tabu
Na União Européia, estamos assistindo ao fim de um tabu. Em nome da segurança do abastecimento em energia do "Velho Continente" e da redução das emissões de gás de efeito-estufa, os dirigentes em Bruxelas saem da reserva que eles se impuseram até agora em relação a este assunto.

O comissário europeu para a energia deverá conferir ao nuclear uma posição de destaque, em 10 de janeiro, em sua apresentação do "pacote" de medidas em favor de uma política comum da energia. Andris Piebalgs apresentará as vantagens da tecnologia termonuclear, uma questão que divide, contudo, os Estados-membros da União Européia (UE).

Num documento preparatório, citado em 26 de dezembro pelo jornal "Les Echos", Andris Piebalgs retoma uma parte do memorando sobre a política energética que havia sido apresentado por Paris, no início de 2006.

"De todas as energias que emitem poucas quantidades de carbono", a termonuclear "é a mais desenvolvida na UE", sublinha o texto. Segundo ele, esta forma de energia é "menos vulnerável às flutuações de preços do que o carvão ou o gás, uma vez que o urânio representa apenas uma parte limitada do custo de produção da eletricidade nuclear". E, diferentemente do que ocorre com os hidrocarbonetos, o urânio utilizado nas centrais permanece "disponível em quantidades suficientes por várias décadas" e "distribuído em várias regiões do mundo".

Evitando incentivar diretamente os países a adotarem ou retomarem essa tecnologia, Bruxelas avisa que em caso de redução da produção de eletricidade de origem nuclear, esta deverá ser "compensada pela introdução de outras fontes que emitam pouco gás carbônico".

A advertência é dirigida aos países que programaram o fechamento das suas centrais daqui até 2030 (Alemanha, Suécia, Bélgica). Contudo, alguns governos decidiram prorrogar a duração de vida das centrais existentes, enquanto outros, tais como na Grã-Bretanha, buscam retomar as suas atividades de produção de energia por meio do nuclear.

Na UE, apenas a França e a Finlândia optaram pela construção de novas unidades. A Estônia, a Letônia e a Lituânia vão se dotar de um reator comum. A Polônia anunciou a sua intenção de se juntar ao projeto e não exclui implantar, no longo prazo, uma central em seu próprio território. Quanto à Romênia, ela quer acelerar o seu programa de modo a reduzir sua dependência do gás russo.

Na Rússia: o átomo a serviço do gás
Uma antiga nação "atômica", a Rússia vende os dois terços do seu gás a preço baixo no seu mercado interno. Por que não desenvolver as centrais nucleares para produzir eletricidade, e guardar o gás e o petróleo para os mercados estrangeiros, dizem em Moscou. Vladimir Putin declarou que em 2030, 25% da energia produzida deverá ser de origem nuclear.

O grupo estatal produtor de gás Gazprom quer participar da retomada do programa de construção de centrais (cerca de quarenta reatores). Ele adquiriu o controle da Atomstroiexport (construção de centrais no exterior) e quer investir na sociedade pública Rosenergoatom, que deve ser transformada numa sociedade por ações.

A Rússia está no processo de criar um grande grupo integrado, o Atomenergoprom, para desenvolver o setor. Ela quer vender o seu know-how para o exterior, assim como ela fez ao participar da construção da primeira central iraniana.

No Irã, o nuclear para compensar a redução da produção petroleira
A República islâmica não desenvolveu apenas um programa nuclear militar, que lhe vale atualmente sanções por parte da ONU. Freada pelas "pressões americanas", segundo afirmou o ministro do petróleo, a produção permanece estagnada, ao passo que o país detém as segundas reservas mundiais de hidrocarbonetos.

No que diz respeito a esta riqueza, as aparências enganam. As exportações do "ouro negro" (65% dos dividendos nacionais) continuam estagnadas desde 1996. Elas poderiam diminuir da metade dentro de cinco anos e parar de vez em 2015, em razão de uma escassez de investimentos e de um consumo interno crescente, conforme adverte Roger Stern, da universidade americana Johns Hopkins (Baltimore).

Em seu estudo publicado na terça-feira, 26 de dezembro, o pesquisador conclui que esta nítida redução das exportações "dá a entender que o Irã poderia mesmo estar precisando do nuclear tanto quanto ele afirma". Contudo, essa resposta a um risco de penúria energética não deve dar margem a dúvidas, segundo ele, de que o programa nuclear iraniano tem efetivamente objetivos militares.
(Observatório do Clima/ Le Monde/ UOL Notícias, 29/12/2006)
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