O 4º Boletim do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Imazon, que desde julho monitora em parceria com o ICV a saúde da floresta no Mato Grosso, confirma que o desmatamento anda num período de baixa no estado. Os 460 quilômetros quadrados de mata que foram ao chão em outubro representam uma queda de 59% em relação à taxa registrada para setembro. Comparada à taxa de outubro de 2005, a redução foi de 75%. O desempenho merece ser comemorado. No entanto, uma leitura detida das 7 páginas de arquivo Word que compõem o boletim, sugere que as palmas sejam dadas com cautela. O texto indica que se houve mesmo uma mudança na ação do Estado, com aumento de fiscalização, o distinto público ainda não percebeu.
A floresta matogrossense continua sumindo sob o patrocínio conjunto da ausência de governo e a certeza geral da impunidade. Derrubou-se menos árvores em outubro.Mas quase todos os desmatamentos detectados têm em comum o fato de serem ilegais. Nas propriedades rurais, onde desmatou-se 347 quilômetros quadrados, 92% dos cortes foram feitos sobre reservas legais, um aumento de 4% no número registrado em setembro. Nos assentamentos do Incra, o desempenho da ilegalidade foi estelar. Dos 109 quilômetros de floresta que os assentados derrubaram, 100% não tinham licenciamento ambiental.
O boletim traz ainda uma análise pioneira, que dá bem a medida da gravidade pela qual a floresta amazônica passa no Norte do Mato Grosso. Dos 519 mil quilômetros quadrados de território estadual que ela originalmente ocupava, não mais que 78 mil, 17% do total, podem se considerar preservados. Neles, os satélites detectam desmatamentos iguais ou muito próximos de zero e registram a presença de pelo menos 80% de cobertura florestal praticamente intacta. Para conseguir números como esses, os técnicos do Imazon criaram uma fórmula. Usaram o número do IBGE para criar uma base e dividiram toda essa extensão em células de 100 quilômetros quadrados.
Em seguida, em cada célula, estimou-se a proporção de floresta que lhes restava primeiro em 2000 e depois em 2005. Submetidas a um exame individual, as células foram agrupadas em cinco categorias de acordo com a evolução desses cinco anos do desmatamento dentro de suas áreas. Na mesma região Noroeste onde os números indicam que existe apenas restar apenas 17% de floresta matogrossense para preservar, estão também o maior número de células em que o impacto do desmatamento é ainda baixo. As médias anuais de derrubada não ultrapassam 1% e seus remanescentes de mata ocupam mais de 50% de seu espaço original. Juntas, essas células formam uma área de 96 mil quilômetros quadrados, que correponde a 21% do território onde certa feita crescia uma imensa parte da floresta amazônica.
Onde a mata acabou
Nem tudo, entretanto, é paraíso na região Noroeste de Mato Grosso. Concentram-se nela também a maior parte das células com pelo menos 50% de sua cobertura florestal, mas que tem taxas médias anuais de desmatamento significativas, entre 1% e 5%. Elas cobrem uma área de 113 mil quilômetros quadrados. No centro Norte e Extremo Norte, é que estão concentradas as células em situação mais crítica. Elas se espalham por 182 mil quilômetros quadrados, 38% da área total que já foi ocupada por floresta e tem algumas coisas, além da ilegalidade, em comum.
Estão numa região marcada pela influência de estradas federais como a BR_163, a BR-364 e a BR-158, e estradas vicinais, boa parte delas abertas sem qualquer participação governamental. Em pouco menos de 2/3 de toda essa área, o desmatamento avança a taxas médias anuais de 5% ou mais. No terço que sobra, as taxas médias podem até ser mais baixas, mas pela razão errada. Lá, os remanescentes florestais têm menos de 25% de seu tamanho original. Em outras palavras, quase não há mais mata para cortar. Toda essa numeralha pode ser encontrada na íntegra no boletim do SAD que está na página do Imazon na Internet.
(Por Manoel Francisco Brito,
OEco, 28.12.2006)