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2007-01-02
As temperaturas médias no Brasil cresceram 0,7 C nos últimos 50 anos, e podem subir mais de 6 C em algumas regiões da Amazônia no fim deste século. As conclusões são de pesquisadores do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), que desenvolveram um novo modelo para tentar descobrir como o aquecimento global afetará o país.

Os primeiros resultados serão apresentados em fevereiro ao Ministério do Meio Ambiente. Apesar das incertezas, os pesquisadores do Inpe, liderados por José Marengo, afirmam que a previsão é que no período de 2071 a 2100 a maior parte do país esteja mais seca e mais quente do que hoje. O quadro é especialmente grave para a Amazônia: mesmo cenário mais otimista, as médias na região devem ficar mais de 3 C mais altas no período 2071-2100. Nesse quadro, com maiores temperaturas e menor precipitação, é grande o risco de que parte da floresta se converta em cerrado.

Com base em observações coletadas em estações meteorológicas, o grupo do Inpe também pôde estimar o aumento médio de temperatura no país nos últimos 50 anos. O Brasil esquentou um pouco mais nesse período (0,7C) que o planeta inteiro esquentou em um século (0,6C). "As temperaturas mínimas subiram aproximadamente 1C, e as máximas, cerca de 0,5C", disse o climatologista Carlos Nobre, do Inpe.

"Porém, um fator que nos atrapalha demais neste tipo de análise observacional é a falta de series históricas climáticas longas para o país." Já com a modelagem há bem menos problemas. O modelo regional do Inpe (que só abrange a América do Sul) tem uma resolução bem melhor do que a dos modelos climáticos globais usados pelo IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática) em suas previsões sobre o clima no futuro.

Modelos climáticos são programas de computador que simulam as condições futuras da Terra após serem alimentados com informações como temperatura, nuvens, aerossóis na atmosfera e oceanos. Para fazer seus cálculos, eles dividem o mundo em várias células. Como o clima é algo complexo, eles diferem muito entre si no resultado de suas simulações.

Os modelos globais usados pelo IPCC usam células de 200 km por 200 km -ou seja, processos que acontecem numa escala menor não aparecem. E isso é uma fonte de incerteza.

O modelo regional do Inpe usa células de até 40 km. "Nessa escala dá para para detectar circulações atmosféricas que tem a ver com a topografia (por exemplo, brisas marítimas devidas ao contraste oceano-continente). Isso é importante para estudos sobre os impactos das mudanças climáticas em setores com agricultura e energia e em sistemas naturais e modificados", disse Nobre.

Também foi possível resolver uma questão que atormentava os cientistas: o aquecimento global faz aumentar ou diminuir as chuvas no Nordeste? Até agora os modelos davam resultados divergentes. O novo modelo crava a má notícia: a região deve ficar ainda mais seca.

Nobre faz um alerta, no entanto: para chegar a seus resultados, o grupo do Inpe precisou unir seu modelo a um modelo global -afinal, o clima é global e não regional. O escolhido foi o do Hadley Centre, no Reino Unido, que tende a calcular um mundo mais seco.

"Isso condiciona a observação", diz o cientista. Na próxima fase de seu estudo, o grupo do Inpe deve tirar a teima usando três modelos globais em vez de um único.
(Por Cláudio Ângelo, FSP, 29/12/2006)
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