Há muito o que ser feito pelo clima do planeta
2006-12-29
Apesar da preocupação global com as mudanças climáticas ter aumentado, os seres humanos continuaram a provocar efeitos massivos na atmosfera em 2006. Em setembro, por exemplo, a Nasa demonstrou que as temperaturas globais estão muito próximas das mais quentes em milhares de anos. Nas últimas três décadas, a Terra esquentou 0,6ºC, o que eleva para 0,8ºC o total de aquecimento anormal observado no século 20.
Isso faz com que a temperatura média atual seja a maior dos últimos 12 mil anos. Um aquecimento de mais 1ºC seria o mais alto do último milhão de anos, pelo menos. "Se o aquecimento alcançar mais 2ºC ou 3ºC, provavelmente veremos mudanças que tornarão a Terra um planeta diferente do que conhecemos hoje. A última vez que ela esteve tão quente foi no Plioceno, há 3 milhões de anos, quando o nível do mar era 25 metros acima do atual", disse James Hansen, diretor do Instituto Goddard de Estudos Espaciais da Nasa.
Assim como as nações em desenvolvimento como China, Índia e Brasil têm crescido em um ritmo acelerado, as emissões de gases causadores do efeito estufa aumentaram mais rápido do que nunca em 2006. Uma pesquisa revelada em março demonstrou que dióxido de carbono está se acumulando com maior velocidade na atmosfera. A dependência chinesa da queima de carvão pode abastecer o desenvolvimento econômico, mas a poluição está sufocando a população do país.
O acúmulo de CO2 na atmosfera tem trazido a tona a preocupação com a possível redução na habilidade da natureza em absorver parte das nossas emissões. Além disso, os cientistas perceberam que plantas têm expelido metano sem que ninguém percebesse. Estimativas sugerem que as plantas podem estar emitindo até 30% do metano global, um potente gás causador do efeito estufa – com 21 vezes mais capacidade de aquecimento global do que o CO2.
Os efeitos das mudanças climáticas são vistos em todos os lugares. As baleias se movem para norte devido ao aquecimento dos oceanos e cerca de ¾ de um milhão de quilômetros quadrados de geleiras perenes do Ártico derreteram em um ano. Em fevereiro, pesquisadores revelaram que o ritmo de perda de gelo na Groelândia dobrou em uma década – de fato, a cada 40 horas, em média, um quilômetro cúbico de água é perdido com a quebra dos icebergs no Atlântico. Parte do medo em relação ao derretimento das geleiras da Groelândia se deve “ao ponto de não retorno” que pode ser alcançado em um século, causando um aumento catastrófico do nível do mar.
Pós-Kyoto
Os furacões não foram tão severos em 2006 como no ano anterior, mas especialistas se questionam se o aquecimento está reforçando-os; para isso, estudam sedimentos que podem fornecer as respostas. Apesar do que cientistas chamam de evidências opressoras, os governos de países ricos são acusados de não conseguirem responder às ameaças das mudanças climáticas; e ainda há negadores das mudanças climáticas nos Estados Unidos.
Em novembro, na Conferência da ONU sobre o clima em Nairobi, no Quênia, representantes não conseguiram determinar um prazo para se chegar a um acordo sobre novas metas de redução de emissão de gases causadores do efeito estufa para quando terminar a primeira fase do Protocolo de Kyoto, em 2012. Negociar créditos de carbono com a África e enterrar gases do efeito estufa podem fornecer algumas soluções para se alcançar as metas já existentes em Kyoto.
Dia depois de amanhã
Em outubro, o ex-economista-chefe do Banco Mundial, Nicholas Stern, alertou que os efeitos econômicos das mudanças climáticas poderiam ser terríveis, causando uma gigantesca recessão global no final desse século. O relatório preparado por ele afirma que as mudanças climáticas globais custarão à economia mundial até $7 trilhões, podendo forçar a migração de até 200 milhões de pessoas devido a enchentes e secas, se os governos ao redor do mundo não adotarem medidas drásticas. Quem mais sofrerá com as destruições causadas pelo aquecimento global será a população pobre do planeta.
No entanto, como um pequeno raio de esperança, especialistas agora consideram improvável que a corrente Norte do Atlântico, que atualmente aquece a Europa, seja alterada, o que causaria uma nova era glacial, como a mostrada no filme inverossímil sobre desastre climático “O dia depois de amanhã”.
A falta de peixes também foi manchete durante 2006. Pescadores continuam fornecendo bacalhau aos montes e a União Européia pouco fez para conter essa atividade. Um novo modelo computacional detalhado previu em novembro que os estoques comerciais de peixe podem entrar em colapso até 2050, o que significaria uma falta generalizada de frutos do mar.
Alerta vermelho
Peixe não é a única espécie ameaçada de declínio precipitado. Em maio, a Lista Vermelha deste ano advertiu que duas de cada cinco espécies estão face à extinção. Fazendas de camarão, plantações de palmeiras e rodovias reduziram em 40% o habitat do tigre da Ásia nos últimos 10 anos – levando a China a sugerir criação dos animais para suprir as negociações internacionais de partes de tigre, e elevando a pressão sobre as populações selvagens.
Já a caça gerenciada de leões na África tem levado a um método de conservação dos bichos. Em raras notícias boas sobre conservação, um biólogo marinho sugeriu em fevereiro que se teria superestimado o declínio das tartarugas verdes.
Em setembro, a ferramenta da web Google Earth destacou estragos ambientais como devastação de florestas, diminuição de geleiras e crescimento urbano exagerado. As florestas do Himalaia estão desaparecendo aos poucos e a Amazônia continua a ser devorada a uma velocidade notável. No entanto, florestas crescem em vários países, como Estados Unidos, Rússia e China, continuando a encorajar.
(Por Sabrina Domingos, traduzido da New Scientist com informações de CarbonoBrasil, 29/12/2006)
http://www.envolverde.com.br/materia.php?cod=26213&edt=1