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2006-12-28
As 60 famílias de Jenipaúba, uma comunidade de pescadores que vive numa região bastante isolada no Estado do Pará, agora têm energia elétrica em suas casas. A novidade é que toda eletricidade é conseguida através da vaporização de caroços de açaí, que transformados em gás alimentam os motores que giram os geradores.

A idéia é antiga, mas nunca foi realizada com tanta eficiência quanto pela Flora Gás do Brasil Indústria, Comércio e Serviços Ltda., empresa do Projeto de Base Tecnológica da Universidade Federal do Pará (UFPA). Ela domina toda a cadeia produtiva dos equipamentos gaseificadores de biomassa para eletrificação rural e industrial utilizando equipamentos brasileiros.

“Trabalhamos a partir da biomassa seca e sólida que passa pelo reator termoquímico volatizando-se em partículas que formam o gás, deixando para trás apenas cinza como resíduo”, explica a engenheira eletricista Brígida Rocha, especializada em geofísica de petróleo e que trabalha no projeto Flora Gás, criado para desenvolver a produção de energias alternativas mais limpas e eficientes que a queima dos combustíveis fósseis.

Complementando a explicação, ela esclareceu: “O gás é recolhido e utilizado para fazer funcionar os motores de explosão normal, a gasolina, que movem os geradores de energia elétrica. A eficiência do combustível atinge 100% gerando energia limpa”.

Comunidades piloto
A partir dos resultados alcançados em laboratório a equipe da UFPA encarou o desafio de instalar protótipos do sistema em três comunidades isoladas que não poderiam ser atendidas pelas redes de energia convencional. Jenipaúba que sobrevive da pesca e agricultura de subsistência reforçada pela coleta do açaí, foi a primeira a ser atendida com suas 60 famílias recebendo energia elétrica em casa.

Os caroços de açaí são o principal combustível disponível naquela comunidade, mas já testamos e conseguimos ótimos resultados vaporizando cascas de castanha, sementes de andiroba, bagaço de dendê cujo óleo havia sido extraído para biodiesel. Em fim, podemos gerar energia a partir destes e outros produtos disponíveis nesses povoados isolados”, garante Brígida.

Apoiados pela Eletronorte eles estão completando a instalação desses sistemas no povoado de Chipaia localizado no município do Ararai na ilha de Marajó onde 90 famílias vivem da coleta do açaí. Também estará beneficiadando outras 90 famílias de pescadores e agricultores da comunidade Nossa Senhora das Dores em Abaeté Tuba. Ambas entrarão em operação permanente a partir de janeiro.

Energia pura
Cada quilo de caroço de açaí seco gera um kilowatt hora de energia, como cada usina tem capacidade para produzir 20 kw/h, o sistema é alimentado com o gasto de apenas 20 quilos de açaí por hora. Resultando no consumo de 200 quilos por dia para gerar dez horas de energia que atende com folga toda a comunidade.

“A grande vantagem é termos uma fonte renovável de energia alternativa de baixo custo, com toda sua tecnologia nacional e que pode ser inserida sem impacto para aproveitar os resíduos de toda a cadeia produtiva dessas comunidades”. Outra vantagem, segundo a pesquisadora, é a de que para o colocar a usina em funcionamento o custo é de mil dólares por kw/h. Daí por diante, a manutenção é mínima e o combustível renovável, praticamente de graça.
(Por Juracy Xangai, Página 20 - AC, 28/12/2006)
http://www2.uol.com.br/pagina20/28122006/c_0928122006.htm

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