Em 100 anos, Amazônia ficará 8°C mais quente
2006-12-28
Daqui a cem anos a temperatura média da Amazônia poderá estar 8° C acima da atual, com volume de chuva 20% menor.
Este é um dos cenários traçados pelo meteorologista José Antonio Marengo, do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (CPTEC/Inpe). Há dois anos ele coordena um estudo que deve ser entregue em fevereiro para o Ministério do Meio Ambiente, sobre os efeitos do aquecimento global no País.
“O Brasil é um país vulnerável às mudanças climáticas e algo tem de ser feito para se evitar catástrofes futuras”, alerta.
A pesquisa, que segue até 2010, recebe investimento de cerca de R$ 800 mil e deve mostrar como ficará o clima no País nos próximos cem anos. São recursos do Programa de Biodiversidade, do Banco Mundial e do governo britânico que financiam os estudos climáticos feitos pela equipe do CPTEC.
Cerrado amazônico
O primeiro relatório do grupo de pesquisadores aponta que poderá haver uma elevação de temperatura de até 8°C e redução no volume de chuva em 20% na Amazônia. “Essa projeção é para um cenário pessimista, se não se respeitar o protocolo de Kyoto, se continuar o desmatamento desenfreado, por exemplo”, diz Marengo. Neste caso, a floresta amazônica atingiria um ponto de saturação em que não poderia mais absorver gás carbônico. “Deixa de ser floresta, passa a ser cerrado”, explica o pesquisador.
“Se a poluição for controlada e o desmatamento reduzido, a temperatura terá subido cerca de 5°C em 2100, mas somente na Amazônia. Teremos menos chuva, mas o Brasil vai continuar sendo um país tropical.”
A projeção feita pelos meteorologistas mostra que no Sudeste pode haver redução na umidade do ar e que também choveria cerca de 10% a menos. “Mas as temperaturas não subiriam mais que 3°C num cenário otimista e 5°C num cenário pessimista. As chuvas serão mais fortes, com tempestades mais severas.”
Entre as medidas que devem ser adotadas desde já para se evitar tais conseqüências estão a redução da poluição proveniente de veículos por meio do uso de combustíveis como álcool e gás natural e a redução nos desmatamentos e queimadas. “O ideal seria investir em energia eólica, em energia solar. Se a chuva não chega e a temperatura aumenta, as pessoas começam a recorrer a ar-condicionado e outros recursos que gastam energia elétrica”, explica o pesquisador. “Isso levaria ao caos.”
(Por Simone Menocchi, O Estado de S. Paulo, 28/12/2006)
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