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2006-12-28
Nenhum centímetro da área de 46 mil hectares (2 vezes o tamanho do Estado de Sergipe) desmatada ilegalmente na região de Sinop em um esquema que extraiu mais de 1,9 milhão de metros cúbicos de madeira (o equivalente a 52 campos de futebol ou 66 mil caminhões enfileirados) foi replantada.

Já se passaram 1 ano e seis meses que a ação batizada de "Curupira" foi desencadeada dando origem a uma série de novas ações no combate à exploração ambiental pela Polícia Federal. Na época 200 pessoas foram denunciadas (responsabilizadas criminalmente), mas até agora somente sete foram julgados e sentenciados.

O esquema, que atuava há pelo menos 4 anos, contava com a participação de servidores do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama), além de fiscais, despachantes e madeireiros.

Até o presidente da então Fundação Estadual de Meio Ambiente (Fema), Moacir Pires e o superintendente do órgão federal, Hugo José Scheur Werle, foram presos por suspeitas de conivência. Pelo menos R$ 500 mil em propinas eram movimentados mensalmente pelos integrantes do grupo.

O superintendente do Ibama/MT, Paulo Mayer, explicou que como ainda correm os processos criminais na Justiça Federal, a situação é mais complexa. Cita que é necessário que se comprove de onde as madeiras foram retiradas, quanto de cada espécie, para que exista uma determinação judicial. Afirmou ainda que os valores de multas aplicadas poderão ser convertidas pelos condenados no replantio.

Ele cita que Mato Grosso, quase inteiramente, fica dentro do "Arco do Desflorestamento", que são regiões como Pará, Tocantins, Acre, Maranhão, que possuem uma extensão gigantesca de área remanescente de florestas. Diz ainda ainda que é difícil o combate, considerando fatores como o tamanho do Estado (MT é o terceiro maior do país).

Mayer cita que se não forem realizadas ações conjuntas entre governos, municípios e União, a barreira para frear o desmatamento não vai acabar. Frisa que para que caberia ao órgão federal somente as atribuições de mais impacto. O grande problema - a exemplo de outros estados - é o efetivo. Para todo o Estado existem 210 homens. Visando expandir a fiscalização em áreas onde se concentra a extração ilegal, o órgão federal desativou Brasnorte, Poconé, e São José do Rio Claro. Mayer explica que o plano de reestruturação vem sendo desenvolvido ao longo de 2006.

Calcula-se que o "negócio" tenha rendido R$ 890 mi de lucro aos membros da quadrilha. Para o replantio dessa área serão gastos pelo menos R$ 108 mi. A quadrilha de fraudadores contava com apoio de um procurador do órgão em Brasília, que evitava investigações de crimes contra a natureza. O servidor acabou demitido. As atividades ilícitas incluíam fraudes em documentos públicos, corrupção de servidores e retirada ilegal de grandes volumes de madeira de áreas de floresta.

A Operação Curupira envolveu 450 policiais federais e foi deflagrada simultaneamente em Mato Grosso, Pará, Paraná, Rondônia e Amazonas.

Estudo contratado pelo Ministério de Meio Ambiente, coordenado pelo Instituto Socioambiental, demonstra que mesmo com "forças tarefa" de fiscalização, planos governamentais supostamente integrados e novas tecnologias de detecção de desmatamentos, a impunidade é um dos principais fatores que alavancam o desmatamento ilegal.
(Por Patrícia Neves, Gazeta de Cuiabá, 27/12/2006)
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