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2006-12-28
A dramática situação do Rio dos Sinos, que agoniza em meio à poluição e à falta de oxigênio, é apenas a ponta de um iceberg tóxico que flutua pelos mananciais de água doce do Estado. Um estudo inédito revela que 14 das 25 bacias hidrográficas gaúchas se encontram ameaçadas pela má qualidade da água.

Informações preliminares do Relatório Anual de Recursos Hídricos do Estado 2006, que deverá ser lançado nos próximos dias pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema) trazem notícias preocupantes sobre a saúde dos rios gaúchos. Um resumo do trabalho indica que em 10 bacias hidrográficas (áreas banhadas por um rio principal e seus afluentes) a qualidade da água é motivo de alerta.

Isso significa que alguns dos itens de avaliação, como nível de oxigenação, presença de coliformes fecais ou material orgânico, já se deterioraram a ponto de ameaçar o consumo. Em outras quatro bacias - três delas localizadas na Região Metropolitana e em seu entorno -, a situação é classificada como preocupante. Nessas áreas, a utilização do manancial já está comprometida e podem ocorrer mortandades de peixes como a que afligiu o Rio dos Sinos em outubro.

- Imaginávamos que o resultado do trabalho poderia ser este, e nossas previsões se confirmaram. A partir de agora, o levantamento servirá de base para a sociedade gaúcha criar um plano de recursos hídricos - afirma o diretor do Departamento de Recursos Hídricos da Sema, Rogério Dewes.

O objetivo é, a partir dos dados, criar novas normas

Conforme a legislação estadual, anualmente deveria ser produzido um relatório do grau de preservação dos mananciais hídricos. Somente em 2002, porém, foi divulgado um trabalho semelhante. Ainda assim, sem a mesma abrangência e sistematização de informações exibida pela versão 2006.

- A idéia é identificar onde estão os problemas e por que eles ocorrem. Esperamos publicar a edição de 2007 já em abril, e não deixar mais de monitorar a situação - avisa o secretário-executivo do Conselho de Recursos Hídricos do Estado, Paulo Renato Paim.

A análise das bacias mostra que os dois maiores vilões do ambiente, sobretudo no entorno de cidades maiores da Região Metropolitana, são o despejo de esgoto doméstico não-tratado e de subprodutos industriais no leito dos rios. No Interior, como nas bacias do Turvo, Taquari e Pardo, sobressaem a contaminação por agrotóxicos e dejetos de criações de animais.

Conforme Paim, os resultados serão a partir de agora discutidos com a sociedade por meio dos comitês gestores das bacias hidrográficas. Em um segundo momento, o fruto desses debates deverá nortear a elaboração do Plano Estadual de Recursos Hídricos - conjunto de normas que terá a missão de regular a preservação e a exploração dos mananciais de água no Estado - e levar à recuperação dos maltratados rios gaúchos.

Nem só a qualidade de água disponível nos mananciais preocupa. A quantidade também. Regiões como a Fronteira Oeste, a Central e a Metropolitana oferecem menos água do que a demanda de janeiro, por exemplo. Isso leva à necessidade de racionamento ou de uso de água estocada em barragens.

- Em 2002, os problemas eram de qualidade. Agora, também são de quantidade - diz Paulo Renato Paim, secretário-executivo do Conselho de Recursos Hídricos do Estado.

A situação se agrava no verão devido à menor disponibilidade de água e à maior irrigação na lavoura. O Rio Grande do Sul chega a aplicar 97% da oferta hídrica em irrigação durante os meses mais quentes. No resto do ano, a média fica em 92%. O consumo humano fica com 4,5%. Os animais (2,3%) e a indústria (1,1%) ocupam o fim da fila.

- A média mundial de uso da água para irrigação é de 70% a 75%. No Brasil, fica em cerca de 80%. O Rio Grande do Sul fica acima disso porque tem uma tradição de irrigação forte. Mas nos surpreendeu o patamar que atinge no verão - afirma Henrique Kotzian, coordenador técnico da Ecoplan, empresa contratada para elaborar o estudo sobre as bacias hídricas.

Duplo problema
Cinco bacias que enfrentam dificuldades de qualidade e quantidade de água:
> Gravataí
> Sinos
> Santa Maria
> Butuí-Icamaquã
> Mirim-São Gonçalo
(Por Marcelo Gonzatto, Zero Hora, 28/12/2006)

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