A recente alta nos preços da soja fez com que as indústrias de biodiesel aumentassem a utilização de sebo bovino como alternativa para reduzir custos de produção. Granol e Fertibom começaram recentemente a usar a matéria-prima. Outros grupos também estudam a sua adoção, de acordo com Arnoldo Campos, coordenador do Programa de Biodiesel pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário.
"Existe uma corrida das indústrias para reduzir custos e garantir rentabilidade na venda do biodiesel", afirma Campos. Ele observa que, no início do programa do biodiesel, o óleo de soja era vendido a R$ 800 por tonelada e atualmente custa em torno de R$ 1,6 mil.
A comercialização do B2 no varejo (mistura de 2% de biodiesel no diesel) começou a ser feita em maio deste ano. Desde abril, conforme levantamento da Scot Consultoria, o preço médio do sebo aumentou 50%, passando de R$ 0,60 por quilo para R$ 0,90. "Os preços têm se mantido firmes graças a um aumento da procura por sebo. E um dos principais fatores é o biodiesel", afirma Fabiano Tito Rosa, analista da Scot Consultoria.
Em relação a novembro, a cotação subiu 5,9% e, em comparação a dezembro de 2005, a alta chega a 18,4%. "Existe um fator sazonal, que é a entressafra do boi, mas não há razão para os preços subirem tanto ao longo do ano a não ser o aumento da demanda", diz Rosa.
O analista acredita que a procura tende a crescer no próximo ano, devido ao seu baixo custo em relação ao óleo de soja e à alta produtividade - 1 quilo de sebo produz 1 quilo de óleo, quando 1 quilo de soja resulta em 180 gramas de óleo.
Diego Ferrés, sócio-diretor da Granol, diz que, neste momento, em torno de 20% da produção de biodiesel é feita com sebo. O plano inicial da empresa era trabalhar com soja. "Para conviver com a alta do preço do óleo de soja é preciso utilizar outras matérias-primas".
Ferrés observa, no entanto, que o sebo demanda processos industriais mais complexos, o que eleva custos em relação aos óleos vegetais. "O sebo acima de R$ 1,10 já não é viável, por causa também do preço do biocombustível fixado nos leilões da Petrobras", afirma. A Granol opera uma unidade em Anápolis (GO) e uma em Campinas (SP) e entrega neste ano 28 milhões de litros de biodiesel. Até março de 2007, a empresa produzirá outros 28 milhões de litros.
O sebo também tem sido adotado na geração de energia. Recentemente, a Votorantim iniciou o uso do produto em suas caldeiras. A empresa não disponibilizou um executivo para detalhar o tema.
Tito Rosa, da Scot, observa que o sebo bovino é utilizado como matéria-prima para 46 produtos das áreas de cosméticos, higiene e limpeza, ração animal (para animais de companhia) e indústria química. A oferta no país dessa matéria-prima é estimada em torno de 600 mil toneladas por ano. "Com a entrada do Bertin na produção de biodiesel, certamente o mercado vai ficar mais firme, porque o frigorífico vai demandar mais sebo do que produz", afirma Rosa.
O frigorífico Bertin está investindo R$ 40 milhões na construção de uma fábrica de biodiesel em Lins (SP), que deve entrar em operação em 2007. A unidade terá capacidade para produzir 100 milhões de litros de biodiesel ao ano, o que demandará consumo anual de 100 mil toneladas de sebo.
(Por Cibelle Bouças,
Valor Econômico, 27/12/2006)