Uvas orgânicas, aquelas produzidas sem o uso de agrotóxicos, já são presença comum nas
gôndolas de supermercados. Não é de estranhar, portanto, que a tendência tenha chegado aos
sucos, vinhos e até espumantes, derivados da fruta.
Umas das vinícolas pioneiras do segmento na Serra é a Cooperativa Garibaldi que, só este
ano, produziu 280 mil litros da bebida. Investindo no ramo há cinco anos, a novidade da
empresa em 2006 é o espumante elaborado pelo processo Asti com uva orgânica lorena e sem
adição de conservantes.
- Produzimos 8,8 mil garrafas e não temos estoque. O mesmo ocorreu com o vinho e o suco. A
aceitação tem sido muito boa - avalia o presidente da cooperativa, Oscar Ló.
Ainda não existem provas de que as bebidas orgânicas sejam melhores para a saúde, segundo
o crítico de vinhos inglês Monty Waldin, autor de um guia sobre as bebidas politicamente
corretas. Mas a expectativa é de crescimento acelerado no consumo desse tipo de produto
nos próximos anos.
Trata-se de um público disposto a pagar de 15% a 20% a mais por uma garrafa de espumante
orgânico da vinícola garibaldense. Hoje, a produção orgânica ainda engatinha:
- Apenas 3% do total fabricado pela empresa é natural. Dos 320 associados da cooperativa,
apenas 18 aderiram a esta cultura - diz Ló.
O presidente da Associação Brasileira de Enologia, Dirceu Scottà, destaca a alta qualidade
da bebida e diz ser pouco notável a diferença de gosto em relação ao produto convencional:
-É uma bebida para um público preocupado com o ambiente.
Produção politicamente correta
Alguns o chamam de louco, o alertam de que produção orgânica é perda de dinheiro, mas o
agricultor Luiz Facchinelli, 46 anos, de Marcorama, conhece bem os benefícios à saúde
conquistados com a agricultura ecológica.
- Faz tempo que na minha família ninguém fica doente. Eu sentia muita tontura, enjôo, toda
vez que usava agrotóxicos nos parreirais. Hoje a nossa produção de uva é bem menor, mas
está todo mundo bem - conta o garibaldense.
Associado da Cooperativa Garibaldi, há cinco anos Facchinelli decidiu mudar seu estilo de
vida. Trocou produtos químicos por tratamentos a base de cinza e água. Em vez de matar as
ervas daninhas, apenas roça o terreno.
- Um hectare de uva normal produz 25 mil quilos. Da orgânica, nem 15 mil. Mas a gente
ganha muito mais ao quilo, sem falar na consciência ecológica - ressalta.
Facchinelli ainda não trocou o sistema de produção de todos os parreirais porque a terra
precisa ser "desintoxicada". Mas, garante, pretende fazê-lo aos poucos.
A certificação
> Os vinhos, sucos e o espumante produzidos pela Cooperativa Garibaldi são certificados
pela Ecocert Brasil, uma entidade que nasceu dos movimentos da agricultura orgânica na
França, em 1991.
> De acordo com o agricultor Luiz Facchinelli, periodicamente técnicos inspecionam sua
propriedade, avaliando desde aspectos das folhas das parreiras até a quantidade de ervas
daninhas presentes no solo - se existirem poucas é sinal de que a terra está recebendo
agrotóxicos.
> O processo de produção na vinícola também é avaliado. É por meio da Ecocert que a
cooperativa pode usar o selo de produtora do primeiro espumante orgânico do país.
(Por Nádia de Toni,
Zero Hora, 27/12/2006)