Governo Federal favorece Aracruz, diz Conselho Indigenista Missionário
2006-12-27
O Conselho Indigenista Missionário (Cimi), organismo vinculado à Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil que acompanha a questão indígena, lançou uma nota pública com duras
críticas ao Ministério da Justiça, em relação à disputa de terras entre indígenas do
Espírito Santo e a empresa Aracruz Celulose.
O Cimi afirma que lideranças povos Tupinikim e Guarani tentaram audiência com o ministério
na última terça-feira, conforme havia sido prometido pelo ministro Márcio Thomaz Bastos
após uma ocupação realizada pelos indígenas no Portocel, controlado pela empresa Aracruz
Celulose. A comissão de indígenas não foi recebida.
A entidade critica o atraso no processo de demarcação de 11 mil hectares de terra
controlados pela Aracruz. Um parecer da Fundação Nacional do Índio (Funai) afirma que a
área é terra tradicionalmente ocupada pelos povos indígenas. O parecer está no Ministério
da Justiça desde o dia 12 de setembro. A legislação determina prazo de 30 dias para o
pronunciamento do ministro, o que não ocorreu até agora.
De acordo com o advogado Cláudio Luis Beirão, assessor jurídico do Cimi, um processo de
demarcação de terras tem várias etapas, mas é incomum a demora na decisão do ministro. “O
que é incomum é essa demora em decidir. É uma decisão que tem um cunho jurídico, que vai
reconhecer que aquela terra é tradicionalmente ocupada, que tem as características de uma
terra indígena como a Constituição determinou. Mas é também uma decisão política, do
Governo Federal, declarando que existe um estudo da Funai, que procede, e determinando que
a Funai faça a demarcação”, afirma.
O advogado do Cimi afirma que o Ministério da Justiça não dá informações precisas sobre
onde se encontra o processo de demarcação da terra. Ele, que junto com outros advogados
do Cimi passará a representar as comunidades indígenas do Espírito Santo em Brasília, diz
que o Governo Federal pode estar atrasando o processo, para não entrar em conflito direto
com a empresa Aracruz. A multinacional teme que a demarcação dos 11 mil hectares em disputa
abra caminho para novas reivindicações.
“O que está por trás de demarcar ou não esses 11 mil hectares não é o tamanho da área. O
que eles têm argumentado é o seguinte: se forem demarcados esses 11 mil hectares, quem
garante que os índios não vão reivindicar mais áreas. Na verdade, toda a área da Aracruz
Celulose no Espírito Santo tinha populações tradicionais, quilombolas, indígenas,
posseiros. E a Aracruz comprou os títulos de propriedade, se instalou lá e com o seu
expansionismo foi tirando essas pessoas. Como tem toda essa área, quem garante que os
índios não vão reivindicar mais. Então, eles querem parar o curso do processo, que pode
ser ruim para eles mais na frente”, diz.
Na nota divulgada pelo Conselho Indigenista Missionário, a entidade critica o Governo
Federal, que se recusou a receber os indígenas no Ministério da Justiça, depois de o
presidente da República ter almoçado com opresidente da Aracruz.
(Por Raquel Casiraghi, Agencia Chasque, 21/12/2006)
http://www.agenciachasque.com.br/boletinsaudio2.php?idtitulo=d072785557da71483c76a886089771d0