Esgoto é o novo vilão do Rio dos Sinos
2006-12-27
Depois dos resíduos químicos industriais largados ilegalmente no Rio dos Sinos, agora o
esgoto doméstico é o tema de debate de ambientalistas e autoridades gaúchas. Em dois meses,
quase 100 toneladas de peixes foram mortos devido à poluição do manancial. No início do
mês de outubro, produtos químicos de curtumes e de empresas de peças e combustíveis
rodoviários provocaram a dizimação de 85 toneladas de peixe. Recentemente, em 15 de
dezembro, a alta contaminação gerada pelo esgoto, aliada ao baixo nível do rio, gerou a
morte de quase outras 15 toneladas de peixes.
Na avaliação do governo estadual, é preciso a ajuda da União para solucionar a questão. O
secretário de Saneamento e Obras Públicas do Rio Grande do Sul, Waldir Schmidt, aponta
como necessário o investimento de R$ 1,8 bilhão em saneamento na principal bacia
hidrográfica da região, valor que as prefeituras municipais não dispõem. Opinião
compartilhada por Henrique Prieto, presidente do Instituto Martim Pescador. O
ambientalista, que estava no grupo que descobriu a primeira mortandade de peixes durante
um passeio de barco, já foi secretário do Meio Ambiente em São Leopoldo e reafirma a
dificuldade de investir em saneamento. No entanto, ele também destaca a falta de
interesse dos próprios governantes locais em relação ao meio ambiente.
"Se não hover uma ajuda do governo federal, os municípos dificilmente não conseguirão
resolver o problema. É um gasto muito grande. Por outro lado, dizem que ‘colocar cano não
dá voto’. Assim, é uma necessidade que vai sendo postergada", diz.
Dos 34 municípios que são banhados pelo rio, apenas dois têm sistema de coleta e tratamento
dos esgotos domésticos. Os outros 32 despejam, sem quase nenhum tipo de tratamento, o
esgoto direto no rio. Em São Leopoldo, uma das maiores cidades da região, apenas 20% dos
cerca de 210 mil habitantes dispõem de sistema de coleta e tratamento. De acordo com
estimativas da Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca (SEAP), a recuperação ambiental
dos 20 quilômetros do Rio dos Sinos que foram contaminados pode levar até três anos,
prejudicando também economicamente os pescadores ribeirinhos que sobrevivem dessa atividade
no local.
Outra questão pouco discutida é a saúde da população que utiliza o manancial para consumo
doméstico. O Rio dos Sinos é tão poluído que o tratamento químico dado pelas estatais de
água não conseguem desinfectá-lo totalmente. Segundo Rafael Altenhofen, coordenador da
União Protetora do Ambiente Natural, a Upan, se as regras do Conselho Nacional do Meio
Ambiente (Conama) fossem seguidas ao pé-da-letra, a água não poderia estar sendo ingerida
pela população. O Rio dos Sinos é responsável pelo abastecimento de 1,3 milhão de
habitantes.
(Por Raquel Casiraghi, Agencia Chasque, 22/12/2006)
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