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2006-12-27
O grupo Suzano deu um passo importante que poderá revolucionar o mundo dos plásticos. A Suzano Petroquímica e a Suzano Papel e Celulose, as duas principais empresas controladas pela família Feffer, firmaram um acordo mútuo de cooperação tecnológica. A idéia é trocar conhecimentos e experiências na tentativa de descobrir alternativas tecnológicas que possam ser usadas pelas duas empresas.

Uma das linhas a ser pesquisada é a lignina, uma substância que confere rigidez à madeira. O objetivo dos estudos é usá-la como matéria-prima para a produção de resinas plásticas, que servem para a fabricação de peças como copos, embalagens e brinquedos. Caso a pesquisa seja bem sucedida, os biopolímeros, também chamados "polímeros verdes", à base de fontes renováveis, como a lignina, poderiam deixar para trás a era das resinas feitas com derivados do petróleo que moldou a sociedade nos últimos 50 anos.

As petroquímicas brasileiras decidiram abrir uma frente de pesquisas neste campo. Elas seguem uma onda empreendida por diversas companhias que já possuem plantas-pilotos, especialmente no exterior. A única unidade em escala industrial em operação é a da NatureWorks, iniciada em 2001, que inicialmente era uma joint-venture entre as americanas Cargill e Dow Chemical, mas esta última deixou a parceria anos atrás.

A primeira explicação para o boom atual das pesquisas sobre "plástico verde" é um tanto óbvia. Devido ao alto preço que o petróleo tomou nos últimos tempos, as empresas avaliam o custo econômico de utilizar a cana-de-açúcar, o milho ou os óleos vegetais como insumo para a produção de plásticos.

Não é de hoje que se produz plásticos com fontes renováveis. Desde o fim do século 19, fabrica-se celofane, um material feito a partir da celulose, que perdeu importância com a entrada dos filmes flexíveis produzidos com abundantes e baratos insumos derivados do petróleo a partir dos anos 50 e 60 do século 20. Outra explicação para a onda recente está relacionada a pressão da sociedade contra a emissão de gases poluentes derivados de combustíveis fósseis que provocam o chamado efeito estufa.

Relegado ao campo técnico, a iniciativa ainda embrionária do grupo Suzano poderá dar um grande impulso à indústria. O grupo tem tradição na pesquisa de celulose de eucalipto, cujos custos de produção são um dos mais baixos do mundo. Outra razão é que a lignina não compete com alimentos, como milho ou açúcar. Atualmente, a substância tem servido como combustível para movimentar a caldeira das fábricas que produzem celulose.

O projeto dá um destino mais nobre à lignina. A indústria de celulose gasta muito esforço em processos químicos e mecânicos para a separar a lignina, que representa cerca de 15% da madeira, da celulose. Por suas propriedades, a lignina funciona como uma "cola" unindo as fibras da madeira. Tal substância poderia servir como insumo para a produção de plásticos.

Outras empresas petroquímicas já estão mais adiantadas e planejam novidades para os primeiros meses de 2007. A Braskem, maior petroquímica da América Latina, controlada pelo grupo Odebrecht, deve anunciar seu primeiro produto patenteado obtido com matéria-prima renovável, provavelmente uma embalagem feita a partir do etanol advindo da cana-de-açúcar.

A tecnologia não deve ser muito diferente da produzida pela Salgema nos anos 80, hoje uma unidade da Braskem. Alguns executivos da empresa já deram a pista dizendo que o produto chegará no mercado com uma margem adicional sobre o custo de produção, sinalizando que o item ainda não tem condições de competir em igualdade com a resina padrão feita de nafta, subproduto de petróleo. Poderia, contudo, ser mais uma estratégia de sinalizar o compromisso da empresa com a sustentabilidade.

A Braskem teria planos até de pôr em breve para funcionar uma planta-piloto, informação não confirmada nem desmentida pela companhia. "O mercado tomou uma velocidade muito grande nos últimos anos e acredito que em quatro a cinco anos já teremos biopolímeros em condições de preços bem competitivas", opina o engenheiro de desenvolvimento de processo da Braskem, Antonio Luiz Morschbacker, um dos responsáveis pelos trabalhos conduzidos neste campo pela empresa. De acordo com Morschbacker, os custos são ainda caros em relação aos processo normais, mas a desenvolvimento tecnológico tem encurtado essa diferença. "Hoje, os preços são 30% a 200% mais altos do que os plásticos normais. No entanto, essa diferença já foi muito maior há dez anos atrás", disse.

A Braskem é uma das empresas que faz parte um consórcio que procura meios para reduzir o "gap" tecnológico para a fabricação de resinas à base fontes renováveis. Uma das grandes vantagens do Brasil é o baixo custo para produzir etanol dada as vantagens comparativas para produção de cana-de-açúcar. "Somos o Oriente Médio em termos de produção de álcool", disse Morschbacker. "A tecnologia pode dar um salto e podemos tornar o processo mais competitivo. É uma questão de tempo."
(Por André Vieira, Valor Econômico, 27/12/2006)

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