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2006-12-27
A frota japonesa de caça a baleias chegou ao Oceano Antártico, enquanto ativistas contrários a esta prática prometem afundar qualquer embarcação que tentar matar estes mamíferos aquáticos. “O que os barcos baleeiros japoneses fazem é ilegal, segundo a Carta Mundial da Natureza da Organização das Nações Unidas”, disse Paul Watson, fundador da Sea Shepherd Conservation Society (Sociedade de Conservação Pastor Marinho). “Também é um assassinato”, ressaltou ao Terramérica, de Melbourne (Austrália), onde está ancorado seu barco Farley Mowat.

Watson disse que já afundou dez barcos de caça a baleias nos últimos 20 anos. Nos próximos dias, o Farley Mowat e outra embarcação de sua organização utilizarão um helicóptero e um ultraleve para localizar barcos japoneses e tentar impedir que matem baleias. A organização ambientalista Greenpeace também enviará dois barcos para documentar os fatos e atrapalhar os caçadores.

Alegando que é com fins científicos que matarão 935 baleias minke (Balaenoptera acutorostrata) e dez fin (Balaenoptera physalus) – em risco de extinção –, os japoneses driblaram uma proibição global, de 1986, à caça comercial desses animais. Também ignoraram o fato de que a maior parte do Oceano Antártico foi designado santuário internacional de baleias.

Os cientistas dizem que, desde 1987, o Japão usa seus supostos fins científicos como pretexto para continuar vendendo e comendo carne de baleia. “As nações baleeiras dizem estar matando com propósitos científicos, mas muitas vezes o tamanho dos exemplares de espécies dizimadas são muito pequenos para responder perguntas científicas sérias”, disse ao Terramérica Bruce Mate, diretor do Programa de Mamíferos Marinhos da Universidade Estatal de Oregon. “Como todas as baleias acabam no mercado, muitos vêem sua caça com fins científicos como um meio para manter em funcionamento o negócio da caça comercial durante a moratória”, assegurou Mate.

Ironicamente, o público japonês não está particularmente interessado em comer carne de baleia, segundo Beatriz Bugeda, diretora para a América Latina do Fundo Internacional para o Bem-Estar dos Animais em seu Hábitat. “Neste outono boreal, a Islândia reiniciou de maneira limitada a caça comercial de baleias e tem freezers cheios de carne destes animais que nem mesmo os japoneses querem”, disse Bugeda ao Terramérica, da Cidade do México. “Não há mercado para a carne de baleia. Elas valem muito mais vivas do que mortas”, assegurou.

O avistamento de baleias constitui uma enorme indústria em todo o mundo, especialmente ao longo do litoral do Pacífico na América do Norte e na América Latina. Essa prática cresce “exponencialmente” na América Latina, segundo Bugeda. É uma fonte muito importante de renda para muitas aldeias litorâneas do México, Chile e outros países. Freqüentemente, é a única fonte de renda onde a pesca teve uma decaída, acrescentou. Várias espécies de baleias vivem ao longo da costa do Pacífico e lentamente sua população aumenta, graças à proibição de sua caça comercial.

A Baixa Califórnia, no México, é a principal área de procriação da baleia cinzenta (Eschrichtius robustus), que agora conta com cerca de 25 mil exemplares. Sua população histórica pode ter sido, pelo menos, dez vezes maior. Novos métodos de análise do DNA (ácido desoxirribonucléico) mostraram que existiam baleias em número muito maior do que se acreditava. Steve Palumbi, da Universidade de Stanford, na Califórnia, revelou que as baleias jubarte (Megaptera novaeangliae) podem ter contabilizado 1,5 milhão de indivíduos antes de sua caça comercial, em lugar dos cem mil que os especialistas acreditavam terem existido. Hoje, restam cerca de 20 mil no mundo.

Acredita-se que a baleia azul (Balaenoptera musculus), que mede cerca de 30 metros de comprimento e pesa 175 toneladas, é o maior animal que já viveu na Terra. Outrora abundante nos oceanos, atualmente restam, talvez, 12 mil exemplares, 25% deles habitando ao longo da linha costeira México-Califórnia. “Em certa época, os cientistas pensaram que as baleias azuis eram tão poucas que não seriam capazes de se encontrar para reproduzir”, disse Mate, especialista nessa variedade.

Os registros mostram que entre 330 mil e 360 mil baleias azuis foram mortas no Oceano Atlântico, somente no século XX. Hoje, poderiam restar ali mil destes animais. A esta escassez se deveu a atenção mundial que reuniu a documentação apresentada em 2003 por Rodrigo Hucke-Gaete, da Universidade Austral do Chile, sobre um novo ninho de baleias azuis no Golfo de Corcovado, perto da ilha de Chiloé. Cerca de 150 baleias azuis foram vistas e se propôs uma área marinha e costeira protegida para a região. Proteger o hábitat crítico é crucial para a recuperação de todas as baleias, disse Mate, que trabalhou com Hucke-Gaete para classificar as baleias azuis no Golfo de Corcovado. A recuperação levará muitas décadas, talvez um século, para muitas populações de baleias, acrescentou Mate.

Durante os próximos três meses, os barcos baleeiros japoneses perseguirão no Oceano Antártico as pequenas minke, que pesam entre seis e sete toneladas. Não se conhece a população real desta variedade. Talvez, contabilizem entre 175 mil e 200 mil animais na região. O Japão se guia por dados de 1988 que sugerem 750 mil. Este ano se soma à polêmica a nova informação sobre a inteligência das baleias. Cientistas do New York Consortium in Evolutionary Primatology (Consórcio de Nova York sobre Primatologia Evolucionista) descobriram células fusiformes nos cérebros de baleias grandes.

Até agora, estas células, que se acredita têm um papel importante na hora de experimentar amor e outras emoções, tinham sido encontradas somente nos cérebros de humanos e macacos gigantes. E as baleias possuem o triplo dos humanos. “Penso que elas são mais inteligentes do que nós, certamente em termos de sua capacidade para viver em harmonia com seu entorno”, disse Watson. Como nenhum país agirá para impedir a matança de baleias, Watson e seus voluntários farão o possível para protegê-las, incluindo atacar seus caçadores. “Não sairemos pregando cartazes e fazendo fotos”, ironizou.
(Por Stephen Leahy, Terramérica, 26/12/2006)
http://www.envolverde.com.br/materia.php?cod=26139&edt=1

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