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2006-12-26
Uma fatia do investimento de US$ 1,2 bilhão que a finlandesa Botnia vai fazer em Fray Bentos, ao norte do Uruguai, para implantar uma fábrica de celulose, será depositada nos cofres de empresas brasileiras. Diversas companhias têm sido procuradas pelos europeus para fornecer materiais à obra.

A fábrica da Cassol Pré-Fabricados, de Canoas, por exemplo, foi contratada para produzir, montar e transportar lajes alveoladas e painéis decorativos. Inicialmente, o contrato previa o fornecimento apenas das lajes, em um valor total de US$ 2,5 milhões. No entanto, o não-cumprimento de contrato pelos fornecedores argentinos abriu espaço para a Cassol ampliar suas vendas em mais US$ 2 milhões. "Fizemos duas reuniões para apresentar nossa proposta, e a boa estrutura que tínhamos para atender ao pedido com rapidez foi o diferencial", explica Aguinaldo Mafra, diretor comercial da empresa.

Para movimentar o material até Fray Bentos, foi necessário armar uma complexa operação logística. Como as peças precisavam ser transportadas já montadas, sob pena de encarecer o frete, foi preciso criar suportes para impedir a danificação da carga. Os gastos com transporte chegaram a 30% do preço dos produtos, enquanto no Brasil os custos logísticos costumam equivaler a 10% do valor da mercadoria. O esforço, no entanto, deverá ser compensado: a Cassol é candidata para futuras obras no Uruguai. "É um contrato valioso que não podíamos perder", diz Mafra.

Um dos fatores que pesou a favor das empresas brasileiras foi o conflito envolvendo o Uruguai e a Argentina, depois do anúncio da instalação de duas fábricas às margens do rio Uruguai - além da Botnia, a espanhola Ence também está se instalando na região. Os argentinos reclamam que o investimento agride o meio ambiente e desrespeita o tratado de preservação da bacia do rio Uruguai vigente entre os dois países. Em retaliação a Tabaré Vázquez, Nestor Kirchner proibiu os trabalhadores do país de colaborarem com as obras.

A Brafer Construções Metálicas, com sede no Paraná, é outra empresa brasileira que se beneficia. Sem a concorrência dos argentinos, a companhia foi contratada pela Botnia para fornecer estruturas galvanizadas a fogo, em um contrato de US$ 15 milhões.

Além do conflito entre os vizinhos do Prata, fortalece a posição brasileira o know how em trabalhar na estrutura de grandes investimentos. Um grupo de engenheiros gaúchos já presta assessoria técnica à terraplanagem do terreno onde a Botnia vai erguer a fábrica, em um contrato de US$ 4,5 milhões. A necessidade de chamar os brasileiros se deu pela dificuldade de chegar a um acerto financeiro com empresas uruguaias. "Fomos contratados para ajudar a construtora uruguaia Ardenor, contratada pela Botnia, a desenvolver a terraplanagem dentro dos custos estimados pelos finlandeses", explica Paulo Eduardo Ponte, engenheiro responsável pelo grupo de trabalho. Inicialmente, a idéia era levar a Construtora Pelotense, do Rio Grande do Sul, para fazer a obra, o que se mostrou inviável pela distância. "A transparência e a flexibilidade dos brasileiros para os negócios foi o diferencial para a contratação", acredita.
(Jornal do Comércio, 26/12/2006)
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