Os imigrantes alemães que chegaram ao Rio Grande do Sul a partir de 1824 repetiram aqui uma
história que seus antepassados haviam construído na Europa. Assim como a Alemanha retirou
muito de sua pujança de um rosário de pequenas e grandes cidades enfileiradas ao longo do
Rio Reno, os colonos germânicos construíram sua saga em território gaúcho plantando
comunidades às margens do Rio dos Sinos. Em 1939, ao publicar um romance ambientado em uma
imaginária cidade gaúcha de colonização alemã, o escritor leopoldense Vianna Moog sugeriu
o paralelo no título, Um Rio Imita o Reno.
De fato, o Sinos imitou o Reno, no bom e no mau sentido. Como no caso da sua contrapartida
do Hemisfério Norte, alimentou o desenvolvimento, mas também foi devorado por ele.
Maltratado pelos dejetos industriais, o Reno ganhou o apelido de "cloaca da Europa".
Asfixiado por fábricas e curtumes, o Sinos tornou-se seu triste equivalente gaúcho.
Infelizmente para os gaúchos, os paralelos terminam em 1986. Há 20 anos, quando um
acidente contaminou o Reno com 20 toneladas de resíduos tóxicos, as autoridades e a
opinião pública dos países banhados pelo rio despertaram. Mais de US$ 15 bilhões foram
investidos na construção de estações de tratamento e em sistemas de monitoramento. A
"cloaca" virou um rio limpo, parecido com o Sinos que os imigrantes encontraram em 1824.
Mais de 60 espécies de peixes desaparecidas voltaram a ser pescadas.
Um rio precisa voltar a imitar o Reno.
(Por Itamar Melo,
Zero Hora, 24 e 25/12/2006)