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2006-12-26
Enquanto o poder público ainda se organiza para garantir a conservação do Aqüífero Guarani, as ações descoordenadas de exploração desse manancial já põem em risco essa que é uma das maiores reservas subterrâneas de água doce do mundo.

A perfuração doméstica, sem o acompanhamento de técnicos e geólogos, compromete a água do aqüífero Guarani, que já está contaminada em vários pontos, segundo alerta o coordenador da empresa Perfuradores, de Santa Catarina, João Ricardo Machiori.

O técnico explica que o problema ocorre pela perfuração feita de forma errada. Ele acredita que o problema é conseqüência da desinformação e não da má intenção. O trabalho da empresa de Machiori consiste em fazer a ligação entre o cliente e empresas de consultores, fornecedores e perfuradores credenciadas na Associação Brasileira de Águas Subterrâneas (ABAS) e no Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Crea). Machiori diz que já foram detectadas algumas áreas do Aqüífero Guarani contaminadas. A contaminação, segundo ele, ocorre “por perfurações sem um técnico presente e feitas de maneira errada”. Ele explica que a orientação de um geólogo é que determina os locais corretos e controla a utilização de produtos biodegradáveis. “É preciso sempre ter um geólogo credenciado acompanhando a obra”, afirma.

O Aqüífero Guarani é o maior reservatório de água subterrânea do mundo. Ele abrange 1,2 milhão de quilômetros quadrados. No Brasil, se concentra a maior parte: 840 mil quilômetros quadrados. Em seguida vêm Argentina (225 mil), Paraguai (71,7 mil) e Uruguai (58,5 mil). No território nacional, o reservatório está sob os estados de Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul, São Paulo, Paraná, Goiás, Minas Gerais, Santa Catarina e Mato Grosso.

Em novembro, durante a 7ª Reunião do Conselho Superior de Direção de Projeto Aqüífero Guarani, em Curitiba, foi anunciada uma campanha que será feita, ainda este ano, com a criação de um manual para conscientizar perfuradores dos perigos da contaminação da água. Em princípio, a campanha será feita em universidades e instituições.

“Existem muitas empresas no Brasil que trabalham sem geólogos e sem autorização do Crea. Elas fazem perfurações residenciais, de quatro a dez metros. Apenas colocam uma bomba e o usuário residencial pode utilizá-la", relata o técnico. "Mas ele não sabe do perigo que pode encontrar depois por ter perfurado um poço tão raso para obter água pra uso residencial”.

Em função desses riscos, Machiori afirma que uma campanha feita unicamente em universidades e instituições técnicas não terá o efeito de conscientização esperado. "É preciso que chegue aos perfuradores domésticos e às empresas não credenciadas”, diz ele.

Para o coordenador da empresa, além da campanha, o aumento da fiscalização poderia inibir o trabalho de empresas que não estejam devidamente credenciadas e com concessão para a perfuração. A outorga de uso é dada pelas secretarias de Meio Ambiente municipais e estaduais ou pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

Segundo o técnico, um dos perigos da perfuração caseira sem orientação é a localização. Fazer a perfuração, por exemplo, em uma residência próxima a um posto de gasolina, envolve graves riscos. “Geralmente há vazamentos dos tanques de gasolina. Uma fossa tem vazamentos. E, numa perfuração rasa, há o risco de a água vir com um alto teor de ferro e coliformes por causa das fossas e da tubulação de esgoto.”

Ele conta que a perfuração caseira é feita por “empresas pequenas, com máquinas de pequeno porte” ou, ainda hoje, “o pessoal perfura de forma artesanal, usando apenas um cano e água. A água vai desmanchando a terra e empurrando o cano para baixo. "Fazem por desinformação”, lamenta ele.
(Por Alessandra Bastos, Agência Brasil, 24/12/2006)
http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2006/12/04/materia.2006-12-04.4084578081/view

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