Produtores americanos, há uma década, realizavam uma colheita que se tornaria o marco de uma revolução na agricultura mundial. O advento das sementes de
soja geneticamente modificadas, cercado de dúvidas e de críticas de grupos
ambientais, resistiu e se consolidou a ponto de ser considerado por
especialistas como um processo irreversível. Da primeira safra colhida em 1996
até os dias de hoje, os transgênicos ganharam em tecnologia e hoje ocupam
cerca de 90 milhões de hectares no mundo.
No Brasil, os registros apontam o Rio Grande do Sul como o pioneiro na
utilização das sementes de soja transgênica. Como a liberação oficial para
plantio e comercialização só viria com a Lei de Biossegurança, no ano passado,
as safras entre 1998 e 2004 se valeram de grãos ilegais vindos da Argentina,
apelidados de "maradoninhas", embora a Embrapa já realizasse estudos desde a
primeira colheita americana. Mais de 90% da área semeada no Rio Grande do Sul,
estimada em 3,86 milhões de hectares pela Emater, é ocupada pelos
transgênicos.
Para o pesquisador da Embrapa Soja de Londrina (PR), Carlos Alberto Arrabal
Arias, a demora brasileira na regulamentação dos transgênicos propiciou que
as sementes ilegais, que não seguiam os padrões de qualidade necessários, se
propagassem, prejudicando o comércio legal. Segundo Arias, na safra
1998/1999, 60% das sementes no Rio Grande do Sul eram legalizadas,
convencionais. Na 2003/2004, esse índice caiu para 10%, apontando a invasão
da semente ilegal.
- Sempre cobramos e buscamos mais agilidade na liberação por parte do governo.
Agora, com a maior oferta de produtos certificados, a tendência é que esse
comércio se recupere - analisa Arias.
O principal benefício da soja transgênica é permitir um controle mais
eficiente das ervas daninhas na lavoura e, com isso, diminuir as perdas e,
conseqüentemente, aumentar a produtividade média da lavoura. Resistentes ao
glifosato, as variedades exigem menor investimento em herbicidas. Fazendo uma
média, numa lavoura com sementes convencionais, são gastos de R$ 85 a R$ 110
por hectare no controle dessas ervas. Numa plantação com sementes
geneticamente modificadas, o investimento fica entre R$ 33 e R$ 37, aponta a
Embrapa Soja.
A facilidade para o produtor ter a lavoura limpa também é muito maior, como
atesta Antônio Carlos Rodrigues da Costa, 52 anos, que utiliza soja modificada
nos 30 hectares de sua propriedade, localizada no interior de Coxilha, no
norte do Estado. O agricultor mudou para a soja transgênica em 1999 e
acredita que a produtividade de sua lavoura aumentou em cerca de 20%.
- Os transgênicos vieram para solucionar antigos problemas - diz Costa.
A novidade que promete tomar conta das lavouras brasileiras é o milho
geneticamente modificado. Depois de um ano de muita polêmica (a decisão foi
parar na Justiça), a liberação deve ser votada no primeiro semestre de 2007
no plenário da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio). De
acordo com Jairon Alcir Santos do Nascimento, secretário executivo do órgão,
a tendência é que seja aprovado. Com a obrigatoriedade de realização de
audiências públicas recém-determinada pela Justiça, porém, tudo indica que
2007 marcará um novo round no caso.
Um dos produtos que está na porta de saída da CTNBio é o milho tolerante ao
glufosinato de amônio da Bayer CropScience, cuja semente deverá estar no
mercado dois anos após a aprovação. O outro milho transgênico no topo da fila
da comissão é o resistente a insetos da ordem lepidoptera, da Monsanto.
- O Brasil tem que lançar mão de novas técnicas agrícolas para ser competitivo
no mercado mundial - avalia Nascimento.
(Por Cleber Bortoncello,
Zero Hora, 21/12/2006)