Quando os agricultores gaúchos se deslumbravam com a limpeza das lavouras de
soja transgênicas, livres de inços, Albino Dudar se manteve firme na
posição de não se entregar à novidade da época, em Três de Maio. Até hoje ele
nunca experimentou o grão geneticamente modificado. Desde 1998, se dedica à
plantação de orgânicos. O trabalho é bem maior do que se tivesse optado pelos
transgênicos - que o liberaria da enxada. Dudar, 63 anos, não se importa:
- Não passo nada na lavoura. Não tem vantagem para mim plantar transgênico.
Nossa lavoura é limpa, mas tem que carpir. Vou continuar enquanto eu puder.
Se está sozinho, leva 20 dias para carpir - cerca de um dia e meio por
hectare. O agricultor agora está só para cuidar dos 18 hectares, na localidade
de Esquina Bela Vista. O filho que o ajudava foi para a cidade.
Dudar está satisfeito com o preço recebido por sua soja não-transgênica e
orgânica. Enquanto o mercado pagou R$ 20 pela saca do grão, ele ganhou R$ 37.
Dudar vende para a Cooperativa Agropecuária Alto Uruguai, que exporta
principalmente para a Europa. A preocupação com a saúde contribuiu para que o
produtor fizesse sua escolha.
- Sempre tive receio- diz.
Livre das preocupações do pagamento de royalties pelo uso da tecnologia, o
produtor também não se empolgou com os comentários de que o grão modificado
possibilita um rendimento maior.
Opção pelo transgênico desde 1998
Em parceria com o pai e o avô, Rogério Ceolin, 31 anos, produz soja em 4,5 mil
hectares no limite entre Tupanciretã e Jóia, no noroeste do Estado. Ele foi
um dos precursores da transgenia em Tupanciretã ao cultivar o grão
geneticamente modificado já em 1998.
Oriunda da Argentina, a semente tinha um valor elevado na época, custando
cerca de R$ 150 a saca de 50 quilos. Naquele ano, a mesma quantidade de
semente de soja convencional custava menos de R$ 30. Hoje, a semente
transgênica tem preço aproximado de R$ 1 o quilo, compara o agricultor.
Os primeiros 30 hectares cultivados com a oleaginosa transgênica tiveram
aprovação, pois o plantio foi feito tardiamente, no mês de dezembro, e mesmo
assim a produtividade foi razoável. Prejudicada pela falta de chuva, a média
ficou em 35 sacas por hectare na colheita daquele ano agrícola.
Nos anos seguintes, o plantio de soja resistente ao herbicida Roundup foi
ganhando espaço na propriedade da família Ceolin. Em 2001, ocupava toda a
área plantada com o grão. Hoje, ele considera a soja transgênica uma revolução
tão importante para a agricultura como o plantio direto.
- A relação custo-benefício da soja transgênica é muito maior do que a da
soja convencional. Em termos de produção, elas até podem ficar equilibradas,
mas com o grão transgênico temos uma redução de até 50% nos custos com
herbicidas - avalia Ceolin, que no último ano teve pequena quebra em razão
das chuvas irregulares na propriedade, mas obteve um rendimento de 40 sacas
por hectare.
(Por Silvana de Castro e Pietro Rubin,
Zero Hora, 21/12/2006)