UE quer integrar aviação na luta às alterações climáticas; Companhias aéreas preferem mercado de carbono a taxas
2006-12-23
As companhias aéreas preferem entrar no mercado do carbono à aplicação de taxas sobre passageiros, voos ou combustível, no âmbito de uma proposta apresentada ontem pela Comissão Europeia. O sector da aviação contribui com menos de dois por cento para as emissões globais de gases com efeito de estufa (GEE), mas o sector está a crescer rapidamente. As suas emissões quase duplicaram de 1990 a 2004, segundo a Agência Europeia do Ambiente.
A entrada do sector da aviação no Mercado Europeu de Licenças de Emissão a partir de 2011 será menos lesiva para as contas das companhias do que as taxas e até poderá aumentar as suas receitas, consideram muitas companhias. Há duas semanas, o ministro britânico das Finanças duplicou as taxas sobre os passageiros, uma medida que algumas transportadoras aéreas dizem custar quatro vezes mais do que simplesmente comprar licenças de emissão.
Companhias divergem quanto a vôos a incluir no esquema
A directiva a adoptar pela Comissão Europeia irá incluir as emissões dos voos dentro da UE a partir de 2011 e todos os voos para e de aeroportos da UE a partir de 2012. Mas as companhias com redes mais extensas, como a British Airways, querem que sejam abrangidos só os voos europeus. "Se tentarem aplicar isto a todas as companhias, onde quer que estejam sediadas, serão levantadas questões legais", lembrou Paul Marston, porta-voz da transportadora aérea britânica. "Isto só irá trazer grandes atrasos".
Já as companhias de baixo-custo, como a EasyJet, que voam quase só dentro da Europa, querem ver todos os voos incluídos. "Para nós ou está toda a gente ou não está ninguém", disse Toby Nicol, porta-voz da EasyJet.
O lado perverso do mercado
Ao entrar no mercado de carbono, as companhias ganharão um determinado número de licenças de emissão mas terão de comprar licenças extra se excederem os limites de emissão. As empresas poderão obter enormes lucros deste esquema se transferirem para os consumidores os custos da compra destas licenças, que elas obtiveram de graça, como já fizeram há dois anos as companhias eléctricas.
"Seria perverso se a primeira tentativa de reduzir as emissões da aviação acabasse por dar ao sector enormes lucros sem fazer nada pelo ambiente", alertou Keith Allott, da organização WWF. Há quem proponha uma solução simples: leiloar licenças em vez de as dar de graça. Os fundos seriam investidos em investigação e desenvolvimento.
"Quer queiram, quer não, a aviação é uma necessidade de consumo. O que importa é incentivar os responsáveis pelo sector a inovarem", comentou Michael Rea, director do Carbon Trust, figura que monitoriza a tentativa do Reino Unido em reduzir as suas emissões.
(Reuters, 21/12/2006)
http://ecosfera.publico.pt/noticias2005/noticia5880.asp