Energia foi uma das prioridades da União Européia em 2006
emissões de co2
2006-12-23
A energia tornou-se uma das principais prioridades da União Européia (UE) em 2006, diante das crescentes dificuldades de garantir o fornecimento, que, em conseqüência, aumentam as preocupações sobre como combinar o acesso a uma energia barata com o combate às mudanças climáticas.
A União Européia, cuja dependência energética chegou a níveis muito preocupantes, busca uma forma de garantir o abastecimento de combustíveis fósseis tradicionais, enquanto tenta reduzir o consumo e aumentar a produção de energias renováveis e alternativas, com a energia nuclear como solução mágica para alguns e rejeitada por outros.
O ano começou com um alarme importante: o corte da provisão de gás russo à Ucrânia devido à divergência sobre preços, que acabou afetando os envios à UE, 30% dos quais passam por território ucraniano. A crise durou apenas alguns dias, mas aconteceu no início de janeiro e durante uma onda de frio, o que deixou claro que grande parte da UE - como Alemanha, Áustria e parte da Itália - depende muito dos envios energéticos a partir da Rússia.
Segundo números da Eurostat - escritório europeu de estatística -, 56,2% da energia utilizada pela UE em 2005 vinha do exterior, contra 53,9% de 2004, e 44% de 1995. Ao ritmo atual, a dependência da UE chegará em torno de 70% até 2025 se não houver medidas. Todos os países do bloco europeu importam energia, com a única exceção da Dinamarca.
Em outra frente, está a luta contra o desperdício energético dos europeus, cujo consumo está aumentando progressivamente. A Comissão Européia (CE, órgão executivo da União Européia) apresentou em novembro uma série de medidas para tentar reduzir o consumo de energia em 20% até 2020. Além disso, a UE se propôs a conseguir que o uso de energias renováveis chegue a 12% do total consumido até 2010.
No entanto, o conjunto de medidas "é muito pequeno para resistir ao aumento do consumo e da dependência", disse Stephan Slingerland, especialista em energia do Centro de Estudos Internacionais Clingendael, com sede em Haia. "É preciso uma mudança muito mais estrutural", mas "não se percebe a necessidade da mudança nem nos responsáveis políticos nem na população da Europa", acrescentou.
Outro elemento preocupante é que a Rússia é a origem de 40% de todas as importações de gás da UE, assim como de 32% do petróleo e de 17% do carvão que compra no exterior. Neste ano, a UE tentou lançar as conversas para um ambicioso acordo de cooperação com Moscou, mas o início foi bloqueado pela Polônia, devido à proibição russa das importações de carne polonesa.
Slingerland minimizou a importância da forte presença russa nas importações energéticas da UE, e ressaltou que "a dependência é dupla", porque os europeus são, com grande diferença, os melhores clientes da Rússia.
Além da crescente dependência do exterior, a UE segue cada vez mais o aumento da concorrência pelos recursos energéticos mundiais - devido, em grande parte, ao cada vez maior apetite das economias da China e da Índia.
Por isso, a UE lançou em 2006 a idéia de incorporar a energia em todos os aspectos de suas relações externas, e começou a preparar acordos para garantir a longo prazo o fornecimento de países como Noruega e Cazaquistão, ou a região do Cáucaso.
Dentro desta estratégia, a União Européia incluirá o setor da energia em todas suas discussões de política externa. O Banco Europeu de Investimentos também uniu-se à questão da energia, que foi declarada setor prioritário por seu Conselho de Governo há poucas semanas.
Em meio a tudo isso estão as mudanças climáticas, já que a UE, enquanto tenta garantir o abastecimento de petróleo e gás, busca reduzir o consumo de combustíveis fósseis - derivados do petróleo e do carvão - para tentar fazer frente ao aquecimento global. Neste sentido, o bloco europeu está reabrindo timidamente o debate nuclear - energia que não gera emissões de CO2 -, mas, formalmente, não tem competência para promover uma fonte de energia que alguns de seus membros rejeitam.
A França, país que tem o maior número de usinas nucleares da UE e que possui indústria própria neste setor, apresentou no começo do ano um documento para promover esta energia como solução ao dilema, mas a proposta não teve muito apoio.
Outro acontecimento-chave deste ano foi o blecaute elétrico do início de novembro, que afetou 10 milhões de pessoas em nove países europeus, mas que poderia ter sido muito pior se não tivesse havido interligações dentro da União Européia. A CE propôs aumentar a coordenação entre os operadores de redes elétricas, dentro de seu objetivo de iniciar uma verdadeira política européia neste setor.
(EFE, 21/12/2006)
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