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2006-12-22
Se um vírus de gripe tão letal quanto o que causou a gripe espanhola de 1918 surgisse hoje, poderiam morrer até 81 milhão de pessoas em todo o mundo, de acordo com estimativa apresentada em um novo estudo. Ao aplicar as taxas de mortalidade históricas aos dados demográficos atuais, os pesquisadores calcularam uma mortalidade de 51 milhões a 81 milhões, com a estimativa mediana de 62 milhões.

Isso é surpreendentemente alto, disse o principal responsável pela pesquisa, Chris Murray, da Universidade Harvard. Ele realizou a análise por acreditar que as estimativas que falavam em 50 milhões de mortes eram exageradas. "Esperávamos chegar a um número entre 15 milhões e 20 milhões", disse Murray. "Parece que estávamos errados".

O novo trabalho será publicado na edição deste sábado, 23, da revista médica The Lancet. A epidemia de 1918 matou, pelo menos, 40 milhões de pessoas em todo o mundo. Mas a severidade das pandemias de gripe varia bastante. As últimas duas, de 1957 e 1968, foram relativamente suaves, matando dois milhões e um milhão de pessoas, respectivamente.

Muitos números já foram apresentados na especulação do número de vítimas da próxima onda de gripe, indo dos poucos milhões às centenas de milhões, mas o jogo de adivinhação continuará indefinido até que a doença chegue. Para chegar a sua estimativa, Murray e colegas examinaram todos os dados de registro de óbito disponíveis entre 1914 e 1923. Havia informação suficiente em 27 países, incluindo dados de 24 Estados dos EUA e nove províncias da Índia.

Os pesquisadores então compararam a taxa de mortalidade durante a pandemia com as taxas médias antes e depois. Isso mostrou qual a contribuição da gripe para a mortalidade, um índice chamado excesso de mortalidade. Eles então aplicaram essa taxa de excesso à população mundial de 2004. Se a estimativa mediana de 62 milhões de mortes ocorrer em um único ano, o número total de óbitos no mundo, de todas as causas possíveis, chegaria a mais que dobrar, sofrendo uma elevação de 114%.

Uma surpresa do estudo é a grande variação dos efeitos da gripe entre os diferentes países. O estudo estima que 96% dos óbitos ocorreriam em países em desenvolvimento. O trabalho detecta uma variação internacional da taxa de mortalidade por um fator de 30. "Isso nos diz que não é só a genética do vírus que causa as mortes, mas há muitas outras coisas que interferem", declara Murray.
(Estadão, 21/12/2006)
http://www.estadao.com.br/ciencia/noticias/2006/dez/21/297.htm

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