Diante da situação das praias catarinenses, o presidente da Fundação do Meio Ambiente (Fatma), Fernando Elias Melquíades Júnior, sugere que os poderes públicos municipal e estadual invistam em saneamento, para reverter a situação. Ele considera "lamentável" o vandalismo praticado contra as placas que indicam as condições de balneabilidade, o que coloca em risco a saúde de moradores e visitantes.
Diário Catarinense - Porque o número de pontos impróprios para banho aumentou tanto no Litoral catarinense?
Fernando Elias Melquíades Júnior - Os pontos impróprios representam 28% do Litoral catarinense e, em relação ao ano passado, houve um aumento de 3% desses pontos. O principal motivo desse aumento é simplesmente o número de pessoas a mais que têm freqüentado as praias de todo o Litoral. Estes números indicam a necessidade de se implementar, no Litoral catarinense, uma ampliação do sistema de esgoto.
DC - Qual a explicação para o aumento da poluição?
Fernando Elias - Existem muitas coisas que causam a poluição, tanto no Litoral como no interior do Estado. O caso do Litoral, especificamente, tem a ver com o saneamento básico. A falta desse cuidado é uma das principais causas da poluição em Santa Catarina. O estado em que muitas praias estão depende da conscientização das prefeituras para essa importante medida que beneficia toda a sociedade.
DC - O que foi feito para reduzir esses pontos do ano passado para cá?
Fernando Elias - Todas as informações que obtemos, com base em nossas análises e coletas no Litoral, são repassadas às prefeituras, para que tomem as medidas necessárias e que melhor se adaptem à comunidade. Isso é uma questão a ser resolvida a médio e longo prazo. Não se pode esperar um resultado imediato. Cabe aos prestadores de serviços de saneamento maximizarem o seu atendimento.
DC - O que deve ser feito a partir de agora?
Fernando Elias - O dever da Fatma é cuidar do meio ambiente do Estado. E para isso são mantidas as coletas e análises semanais, a fim de reforçar a importância do saneamento básico como medida de prevenção da poluição.
DC - Como será feita, durante a temporada, a fiscalização e a reposição das placas que orientam os banhistas sobre os pontos impróprios?
Fernando Elias - Elas são repostas conforme os relatórios de balneabilidade e estão sendo recolocadas a todo momento. Nosso maior problema em manter as placas nos seus lugares é o vandalismo. Tem sido comum a retirada dessas placas, o que é um crime contra a própria comunidade, pois deixa de informar a real qualidade da água que ela utiliza para se banhar.
DC - As placas não definem a área exata a ser evitada pelos banhistas. Como saber qual o limite da restrição?
Fernando Elias - Não existe limite certo para as áreas impróprias, depende das correntes marítimas. Recomendamos que o banhista fique a pelo menos 100 metros longe das placas que indicam pontos impróprios. O ideal é escolher praias inteiramente próprias.
DC - Além do vandalismo em algumas localidades que possuem placas depredadas, como explicar a ausência de sinalização no riacho da Brava; em frente à Rua Manuel Isidoro da Silveira, localizada na Lagoa; e a placa de próprio em frente à Rua Do Siri, nos Ingleses (todos pontos impróprios)?
Fernando Elias - O principal problema é o vandalismo. Há um número de placas em substituição, sendo que muitas delas estão sendo recolocadas. É o caso da Rua do Siri, cuja placa pode ter sido mudada pelos moradores mesmo ou vândalos que trocam os selos por outros com indicação de próprios, retirados de outras placas.
Como é analisada a balneabilidade
Para determinar as praias que farão parte da coleta são usados dois critérios: o movimento e a saída de rios no local. Depois das amostras coletadas, a Fatma faz a análise da água em laboratório, considerando a quantidade de uma bactéria chamada escherichia coli, presente no intestino de animais de sangue quente. Quando em mais de 20% de um conjunto de amostras coletadas nas últimas cinco semanas, no mesmo local, o número desta bactéria for maior do que 800 por 100 mililitros ou quando, na última coleta, o resultado for superior a 2 mil bactérias por 100 mililitros, o local é impróprio para banho.
O que dizem as autoridades
Na comparação do relatório de balneabilidade deste ano com o do mesmo período de 2005, Florianópolis, Balneário Camboriú e Itapema foram as cidades que mais apresentaram aumento do número de áreas impróprias para banho.
Na Capital, o número de pontos impróprios passou de 12 para 21, e em Balneário Camboriú e Itapema, de um para seis. Veja o que disseram os responsáveis:
- Dario Berger, prefeito de Florianópolis
"Isso me causa perplexidade, pois trabalhamos no sentido contrário. Estamos fazendo obras de saneamento no Canto da Lagoa e nesta temporada vamos ampliar a estação da Barra da Lagoa. No início de 2007, a previsão é lançar obras como essas no Ribeirão da Ilha, em Santo Antônio de Lisboa, Cacupé e Sambaqui."
- Antônio Ballestero Junior, secretário do Meio Ambiente de Balneário Camboriú
"O resultado se deve ao período de chuvas que antecipou os testes feitos pela Fatma. O que vamos fazer neste sentido é a dragagem do canal do Marambaia e dar continuidade ao projeto de fazer fossa-filtro nas áreas onde não têm esgoto. Hoje temos poucos problemas em decorrência da falta de saneamento, mas a chuva prejudicou."
- Sabino Bussanello, prefeito de Itapema
"Para mim foi uma surpresa. Até encomendei outros testes para verificar o problema. Acredito que as freqüentes chuvas possam ter influenciado neste resultado, pois estamos investindo há cinco meses em um novo sistema de tratamento de esgoto, que permite detectar e captar dejetos caseiros que seriam jogados no mar. Caso os testes indiquem que os pontos são realmente impróprios, a solução será dar continuidade aos trabalhos de saneamento e aumentar a fiscalização."
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Diário Catarinense, 21/12/2006)