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2006-12-20
A crescente exploração pesqueira tem ocasionado a diminuição anual dos recursos pesqueiros, principalmente, sobre peixes lisos da Amazônia. Ou seja, a pesca não é realizada de forma sustentável e a quantidade de pescado capturado é bem maior do que aquela que o ambiente consegue repor. Estudos apontam que o grupo formado pelos grandes bagres: dourada (Brachyplatystomarousseauxii), a piraíba (B. Filamentosum) e a piramutaba (B. Vaillantiie) é o que mais sofre com a ação.

Quem afirma são os pesquisadores do Laboratório Temático de Biologia Molecular (LBTM) do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCT). Segundo as estatísticas pesqueiras, a captura total dos grandes bagres migradores, compartilhada por países amazônicos como o Brasil, Colômbia, Peru e Bolívia, seja em torno de 30 mil toneladas ao ano. A pesquisadora Jacqueline da Silva Batista (LBTM/Inpa) informa que estas espécies são capturadas ao longo do sistema Estuário - Amazonas - Solimões(EAS), pela frota comercial e artesanal desde Belém, no Estuário Amazônico (Brasil) até a cidade de Pucallpa (Peru). "O que provavelmente faz desses peixes os maiores migradores de água doce do mundo, pois abrangem o território geográfico e político de mais de cinco países amazônicos e percorrem mais de 5 mil quilômetros para completar seu ciclo de vida",ressalta Jacqueline.

No Amazonas, eles são comercializados em frigoríficos, mercados e feiras livres, como, na Ceasa, Manaus Moderna e Panair ou em municípios, como,Tefé, Tabatinga, Iranduba, Itacoatiara e Manacapuru. Segundo a pesquisadora,saber a procedência dos peixes comercializados nesses pontos comerciais e em outros Estados da Amazônia brasileira é uma das saídas encontradas pelos estudiosos para subsidiar políticas de manejo e conservação visando a controlar a ação intensa da atividade pesqueira sobre os grandes bagres e minimizar a sobre pesca. Para isso, o LBTM elaborou o projeto "Biotecnologia Diagnóstica Aplicada ao Manejo e à Conservação dos Grandes Bagres Migradores de Alto Valor Comercial na Amazônia", que tentará responder a questão.

De acordo com Jacqueline Batista, a intenção é utilizar ferramentas que possibilitem o desenvolvimento de marcadores moleculares para estimar a procedência e também delimitar os estoques pesqueiros. O acompanhamento será feito em 12 localidades da região. O trabalho será realizado por meio de estudos com seqüência DNA. "A informação ajudará no manejo de áreas protegidas e em locais em que a pesca não é permitida, saber se cada afluente (Madeira, Japurá, Juruá, Purus) possui populações genéticas distintas. Além disso, a metodologia desenvolvida pode ser aplicada a outras espécies de valor comercial na região", esclarece. "Supomos que futuramente sejam adotadas medidas de manejo durante um determinado período do ano para que a pesca da dourada no rio Purus seja proibida.

Todavia, o pescador chega em Manaus e diz que o peixe foi pescado no rio Juruá ou em outro rio. Um dos principais objetivos do projeto é estimar a probabilidade da informação ser verdadeira. Além disso, também será possível saber em quais rios há baixos níveis de variabilidade genética desses peixes e verificar se há correlação com a ação da pesca", explica.Segundo a pesquisadora, em uma região onde a pesca dos grandes bagres é uma das atividades econômicas mais importantes, ou seja, como fonte de emprego,renda e de proteína, saber a procedência dos pescados é fundamental.

A pesquisadora ressalta que tentar responder a esta pergunta não será uma tarefa fácil e vai demandar tempo. Ela explica que não é um trabalho que se resolve de um ano para outro, pois envolve questões como entender o ciclo devida dos peixes. Ou seja, compreender como os grandes bagres comportam-se desde o nascimento até a fase adulta (quando estima-se que eles migrarão para a cabeceira dos grandes afluentes, principalmente, os de águas brancas,para reproduzirem-se). Parceria com países Amazônicos - Jacqueline Batista destaca que é necessário uma ação conjunta entre o Brasil e os demais países amazônicos por onde os peixes migram e são capturados.

Segundo ela, é importante a elaboração de um plano de manejo em conjunto, que possa englobar medidas de conservação dos vários órgãos ambientais."Os peixes não possuem barreiras políticas. Por isso, uma atenção especial deve ser dada a manutenção da piramutaba. Ela é o alvo preferencial da pesca industrial que utiliza a rede de arrasto", lamenta e acrescenta que esse método de pesca é um dos mais nocivos.

A pesquisadora diz que além da rede capturar os grandes bagres também coleta outros peixes menores e revolve o leito do rio prejudicando outras vidas que vivem no ambiente aquático. Em relação às medidas de conservação, ela afirma que há algum tempo foi adotada uma alternativa de manejo para a dourada, no rio Madeira (RO), que faz fronteira com a Bolívia. A medida determinava uma época de defeso.Contudo, do outro lado da fronteira a pesca era permitida. "A medida trás a solução esperada?", questiona a pesquisadora. Apesar das dificuldades enfrentadas para elaboração de um plano de manejo,alguns países já estão sensíveis à questão exploratória dos grandes bagres."A dourada e a piramutaba encontram-se na categoria dos peixes ameaçados ou em perigo de extinção no "livro vermelho" de peixes de água doce da Colômbia. No Peru, é proibida a pesca de alevinos e jovens de dourada, piramutaba, piraíba e outros bagres, os quais são comercializados como ornamentais", afirma.

De acordo com Batista, "a elaboração e a aplicação de estratégias de conservação e manejo só serão bem sucedidas quando for subsidiada por informações cientificas sólidas que contemplem, principalmente, em razão do comportamento migratório, o conhecimento do local e/ou afluente do qual é oriundo os peixes capturados e comercializados nos mercados e feiras livres", finalizou. Financiamento - O projeto vai durar 36 meses e o orçamento estimado é de R$ 250 mil.Os recursos são oriundos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/MCT) por meio do edital CT-Amazônia/CT-Energ.

A pesquisadora diz que14 pessoas participarão das pesquisas, entre estudantes de doutorado, mestrado,graduados e de iniciação científica. Além do LTBM/Inpa, participarão cientistas do Laboratório de Genética e Evolução Animal da Universidade Federal do Amazonas(LEGAL/ICB/UFAM), da Universidade Federal de Roraima (UFRR) e da Universidade Estadual do Amazonas (UEA), campos Tefé. "A UEA de Tefé será um ponto estratégico durante as pesquisas, pois há uma pesca intensiva na região", explica.
(Por Luís Mansuêto, INPA/MCT, 19/12/2006)
http://agenciact.mct.gov.br/index.php/content/view/42653.html

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