Brasil define futuro nuclear esta semana
2006-12-20
O Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) deve decidir esta semana o futuro da energia nuclear no País. Em reunião marcada para a quarta-feira, o conselho pode votar pela conclusão de Angra 3, que já tem US$ 750 milhões em equipamentos comprados. A expectativa do setor é que o novo Programa Nuclear Brasileiro (PNB), que prevê a construção de mais três usinas, pelo menos, também entre na pauta.
'Estamos vivendo um momento de grande expectativa', afirmou ontem o novo presidente da Associação Brasileira de Energia Nuclear (Aben), Francisco Rondinelli, que tomou posse para um mandato de dois anos à frente da entidade. Na cerimônia, todos os discursos destacaram a mudança de atitude do governo com relação à energia nuclear.
Até a última reunião que tratou do tema, em maio, apenas o Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT) era favorável. Agora, a alternativa nuclear consta de todos os estudos de planejamento do setor.
Membro do CNPE, o secretário de Energia, Indústria Naval e Petróleo do Rio, Wagner Victer, disse que o conselho se reúne sem pauta definida, mas pediu ao ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, que inclua a conclusão de Angra 3 nas discussões. 'Estou confiante que o projeto será aprovado. Hoje, Angra 3 é competitiva, se comparada com as usinas que vêm sendo apresentados nos leilões de energia', afirmou.
Segundo Victer, a usina geraria a um preço de R$ 138 por megawatt-hora (MWh). Em leilão de energia nova realizado em junho de 2006, o preço médio pago pelo mercado ficou em R$ 128,95 por Mwh. A conclusão de Angra 3 vai demandar US$ 1,7 bilhão, disse o secretário, que vai levar ao CNPE carta de apoio de quatro prefeitos da região de Angra dos Reis.
Alternativa
A usina tem potência de 1,3 mil MW. 'A energia nuclear é uma alternativa para a expansão do parque térmico brasileiro, ao lado do gás', concorda Rondinelli. Ele defende a aprovação do PNB completo, uma vez que o País já detém toda a tecnologia para produzir combustível nuclear e tem grandes reservas de urânio no subsolo.
O novo diretor da Aben lembra que o Plano Nacional de Energia 2030, que também deve ser aprovado na reunião de amanhã, já conta com 4 mil MW novos em energia nuclear.
Para cumprir essa estimativa, diz Rondinelli, é preciso concluir Angra 3 e construir mais três usinas do mesmo porte. A Região Nordeste seria a mais apta a receber alguns projetos, já que vive um problema de suprimento de gás natural. Victer acredita, porém, que o CNPE deve apenas aprovar a continuidade dos estudos do PNB, que ainda precisa definir cronograma, potência e localização das usinas.
Segundo o presidente da Eletronuclear, Othon Pinheiro, o programa trabalha com um maior índice de nacionalização das usinas. Em discurso na posse de Pinheiro, ele disse que a idéia é que 70% do investimento seja gasto no Brasil.
Para os executivos do setor, a captação de recursos não será problema, pois os fabricantes de equipamentos costumam financiar a construção das usinas.
(Por Nicola Pamplona, O Estado de S. Paulo, 19/12/2006)
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