DUAS CRIANÇAS FORAM EXPOSTAS AO BENZENO EM MAUÁ(SP)
2001-10-22
A Secretaria Municipal da Saúde de Mauá (SP) admitiu, Sexta-feira, que, das quatro pessoas expostas ao benzeno, segundo exame divulgado, duas são crianças. O benzeno, considerado cancerígeno, é uma das 44 substâncias que contaminam o subsolo do Residencial Barão de Mauá. Os exames feitos em uma amostra de 329 moradores, constataram que essas quatro pessoas teriam ácido transmucônico acima do normal no organismo. A presença do ácido está acima de 0,5 miligrama por grama de creatinina, substância comum na urina. O ácido é resultado do metabolismo do benzeno no organismo. A amostra reuniu 10% da população do residencial. Havia no grupo pessoas de todas as etapas, para que fosse possível a comparação de resultados dos exames. Segundo a Prefeitura de Mauá, o mesmo laboratório, Toxikon, será responsável pela contraprova que será apresentada ao toxicologista José Tarcísio Penteado Buschinelli, da Fundacentro, que irá explicar o motivo da elevação do ácido no organismo destas pessoas amanhã. Segundo Igor Vassilieff, presidente da Sociedade Brasileira de Toxicologia e consultor da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), o índice de ácido transmucônico detectado pelo exame de urina nos quatro moradores só terá validade se for feita uma avaliação clínica dessas pessoas. -Se a pessoa trabalha num posto de gasolina, ou tiver tomado algum analgésico antes do exame, ou comido chocolates, pode dar alguma alteração no resultado. De acordo com o médico, um exame só não tem valor, mas se um segundo confirmar a exposição, sem que as pessoas tenham ingerido ou sido expostas a produtos que possam alterar o resultado do exame, o índice confirma que a exposição a benzeno aconteceu no residencial. Vassilieff também sugere que os quatro moradores passem por uma avaliação toxicológica e façam hemogramas para saber se houve diminuição do número de glóbulos brancos no sangue, sintoma de leucemia. A doença pode ter como causa a exposição a benzeno. A Secretaria da Saúde de Mauá comunicou aos moradores que realizaram o exame que estes não deveriam ingerir alimentos como massas, chocolates ou licores, o que atrapalharia os resultados. As investigações a respeito do condomínio Barão de Mauá começaram em abril do ano passado, após uma explosão em uma caixa dágua. No acidente, uma pessoa morreu e outra ficou gravemente ferida. Na manhã de sexta, cerca de 200 moradores do condomínio realizaram um protesto em frente ao antigo plantão de vendas da Paulicoop, hoje posto avançado de Saúde da Prefeitura de Mauá. Eles interditaram uma pista da avenida João Ramalho, sentido Santo André, por 20 minutos. Segundo José Fernando Silva, porta-voz dos moradores, a revolta é geral. -Nós não aguentamos mais viver nessa incerteza. Não importa quantas pessoas estejam contaminadas, se é uma, se são mil, precisamos que as providências sejam comunicadas a nós e que sejam tomadas de forma séria, afirmou. Os manifestantes também exigem que sejam feitos exames em todos os moradores (cerca de 4.000), e não só em uma amostra de 329 pessoas. O secretário da Saúde, Márcio Pires, informou que os exames serão feitos em todos os moradores, mas não soube precisar quando isso acontecerá. (Agência Folha)