Aumento de oxigênio nos oceanos pode ter levado ao surgimento de animais complexos
2006-12-20
Um estudo agora divulgado traz uma nova explicação para resolver um enigma que tem intrigado cientistas há muito tempo, a começar pelo inglês Charles Darwin (1809-1892). Após quase 3 bilhões de anos em que a evolução na Terra ocorreu principalmente entre organismos unicelulares, grandes animais passaram a fazer parte da cena. Não que tenham surgido subitamente, mas a ocorrência desses animais complexos no registro fóssil de 500 milhões de anos permanece um mistério.
O próprio “pai da evolução” se dizia perplexo com o surgimento dos grandes animais, a ponto de a questão ter-se tornado conhecida como “dilema de Darwin”. Agora, um grupo de pesquisadores liderado pelo paleontólogo Guy Narbonne, da Universidade de Queens, na Inglaterra, aponta uma causa.
Segundo os pesquisadores, um enorme aumento na quantidade de oxigênio nos oceanos pode ter levado ao surgimento de animais complexos. O estudo indica que a elevação, ocorrida há cerca de 580 milhões de anos, corresponde à primeira aparência de fósseis de grandes animais na península de Avalon, na província canadense de Newfoundland.
Os resultados do estudo foram publicados na Science Express, versão on-line com artigos que sairão na edição impressa da revista Science. “Nosso estudo mostra que os sedimentos mais antigos encontrados na península de Avalon, sem registro de fósseis de animais, foram depositados durante um período em que havia pouco ou nenhum oxigênio livre nos oceanos do mundo”, disse Narbonne, em comunicado da Universidade de Queens.
“Há evidências de um enorme aumento, imediatamente após aquela era do gelo, do oxigênio atmosférico de pelo menos 15% dos níveis atuais. Esses outros sedimentos também contêm evidências dos mais velhos fósseis de grandes animais”, afirmou. Segundo os cientistas, a estreita conexão entre a primeira ocorrência de oxigenação nos oceanos e o surgimento de tais fósseis confirma a importância do oxigênio como um gatilho para a evolução animal.
Em 2002, Narbonne liderou um grupo que descobriu a mais antiga forma de vida complexa no planeta, também em Newfoundland, que levou o surgimento de tais seres vivos para mais de 575 milhões de anos. O artigo Late-Neoproterozoic Deep-Ocean Oxygenation and the Rise of Animal Life, de G. Narbonne e outros, pode ser lido na Science Express em www.sciencemag.org.
(Agência Fapesp, 19/12/2006)
http://www.ambientebrasil.com.br/rss/ler.php?id=28498