Oposição da Índia critica acordo nuclear com os Estados Unidos
2006-12-20
A principal força de oposição da Índia, o Bharatiya Janata Party (BJP), fez ontem um alerta ao Governo para que não se deixe levar pelas "areias movediças" do acordo nuclear com os Estados Unidos, por entender que o objetivo do pacto é "eliminar" a capacidade nuclear indiana.
Entrevistado pela agência de notícias indiana "PTI", o senador Arun Shourie disse que o conteúdo do pacto, sancionado na segunda-feira pelo presidente americano, George W. Bush, demonstra que a política dos EUA consiste em "reduzir e eliminar" o poder nuclear da Índia, "deixando todos os reatores sob controle externo".
Shourie criticou o primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh, que afirmou que o acordo era necessário para que o país pudesse importar 35 mil megawatts de energia nuclear, o que permitira que continuasse crescendo em ritmo acelerado, devido aos custos do urânio. O BJP não concorda com esta condição.
Pelo acordo nuclear, a Índia comprometeu-se a separar suas instalações civis das militares, colocando as primeiras sob a supervisão da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Em troca, Bush prometeu que facilitará ao país o acesso à tecnologia nuclear civil. Até agora, isto era negado à Índia pelo fato de não ser signatária do Tratado de Não-Proliferação (TNP).
Com a permissão, o país poderá suprir suas crescentes necessidades energéticas. As críticas da oposição foram feitas um dia após Manmohan Singh afirmar na Câmara Baixa que o acordo nuclear não teria relação com o programa nuclear estratégico indiano, que responde "só aos interesses do país" e não ao "interesse de outros".
"Este é um programa de cooperação nuclear civil", ressaltou Singh. "Jamais discutimos com os Estados Unidos ou com nenhum outro país nem o conteúdo nem o alcance de nosso programa nuclear estratégico", acrescentou o primeiro-ministro indiano.
O pacto também despertou a oposição do Partido Comunista da Índia Marxista (TPI-M), aliado do Governo, que qualificou hoje de "insustentável" a promessa de Singh de que os Estados Unidos escutarão as preocupações indianas.
Segundo Singh, continuam existindo áreas de "preocupação" sobre as quais a Índia discutirá com os EUA "antes de concluir o acordo bilateral". Singh se referia a "aspectos estranhos e de preceitos" que buscam, no marco do acordo, aumentar a cooperação nuclear civil entre os dois países com a posição indiana sobre a polêmica nuclear do Irã, país com o qual a Índia mantém fortes laços.
"Não faremos nada que comprometa ou reduza a plena autonomia indiana na gestão de sua segurança e os interesses nacionais", disse Singh, entrevistado pela agência de notícias indiana "Ians". Enquanto a imprensa nacional e a confederação industrial elogiaram o "fim do isolamento nuclear indiano", o acordo foi rejeitado pelo Paquistão e foi visto com reservas pela China, que ainda não se pronunciou a respeito.
(EFE, 19/12/2006)
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