Grandes cidades transformam canto dos pássaros
2006-12-20
Isso é verdade tanto para pássaros quanto para pessoas. Uma pesquisa mostrou que ambientes urbanos reduzem a variedade de pássaros, fazendo com que as mesmas espécies sejam encontradas em todas as cidades (pombas, por exemplo). Porque apenas algumas espécies sobrevivem nas cidades? Um estudo conduzido por Hans Slabbekoorn e Ardie den Boer-Visser da Universidade de Leiden, Holanda, sugere uma resposta, ao menos para pássaros que cantam: os bem-sucedidos conseguem ser ouvidos por cima do barulho.
O estudo, publicado na revista científica Current Biology, observou um pequeno pássaro cantante chamado Chapim-real (Parus major), encontrado na Europa, tanto na cidade quanto no campo. Os pesquisadores gravaram cantos de pássaros nos centros de Paris, Londres, Berlim e sete outras cidades e compararam com os cantos de pássaros de áreas florestais próximas.
Eles descobriram que o volume mínimo dos cantos dos pássaros urbanos era sempre maior do que dos pássaros selvagens. Além disso, o canto dos pássaros urbanos eram mais curtos e mais rápidos. (Ouça-os em nytimes.com/science).
Assim como outros pássaros cantantes, o Chapim-real macho usa seu canto para marcar território e atrair fêmeas. Porém, ao contrário de outros pássaros, o Chapim-real tem a capacidade de mudar seus cantos e aprender novos, mesmo depois de adulto. Segundo Slabbekoorn, com todo o barulho do trânsito das cidades, "as partes mais baixas do canto do pássaro serão as primeiras a serem encobertas". Portanto, um pássaro que conseguir mudar seu canto para um volume mais alto terá mais chances de ser ouvido e conseguir acasalar.
Segundo Slabbekoorn, a razão pela qual o canto dos pássaros urbanos é mais curto e rápido provavelmente tem relação com o ambiente. Comparadas às florestas, as cidades são muito abertas, com ar turbulento que pode degradar a qualidade sonora. Num ambiente assim, a repetição é importante, e uma música mais curta pode ser repetida mais vezes. Além disso, uma nota individual mais curta - especialmente a primeira, usada como um tipo de "alerta" aos outros pássaros - tem menos chances de ser afetada do que uma longa.
Não significa que os pássaros urbanos estejam necessariamente evoluindo e cantando de modo diferente, disse Slabbekoorn. O que evoluiu foi a habilidade do Chapim-real em adaptar seus cantos - e tal processo se iniciou antes das cidades existirem. "Eles desenvcolveram capacidades na floresta que os tornaram bem-sucedidos nas cidades".
(Por Henry Fountain, The New York Times, 19/12/2006)
http://ultimosegundo.ig.com.br/materias/nytimes/2631501-2632000/2631782/2631782_1.xml