Gaúcho é comprador irregular de animais silvestres
2006-12-19
Um levantamento feito pelo IBAMA/RS revela um comportamento
insensato dos gaúchos em relação ao meio ambiente, em especial com os
animais: o Estado do Rio Grande do Sul, (e com destaque a Região
Metropolitana de Porto Alegre) não é apenas rota do tráfico de animais
silvestres, mas grande comprador destes mesmos animais.
A afirmação vem amparada pelos números da Divisão de
Controle e Fiscalização - DICOF - do IBAMA/RS. Apenas neste ano de
2006, foram aplicados 1.127 autos de infração no Estado: 587
correspondem à fiscalização da fauna; 307 à pesca, 144 às atividades
relativas ao meio ambiente (poluição e degradação, entre outros) e 89
referentes à flora. Convertidos em multas, estes autos de infração
representam, juntos, a quantia de R$ 8.515.63,60.
Segundo o responsável pela DICOF, analista ambiental Fernando
Falcão, "as pessoas acham que tráfico de animais só acontece em
outros locais, e não está associado à aquisição de animais para
mascotes, mas milhares de animais são comercializados irregularmente
em nosso Estado". Outro aspecto importante, segundo ele, é a
necessidade de implementação efetiva do Sistema Nacional de Meio
Ambiente "SISNAMA " possibilitando a fiscalização da fauna por parte
dos municípios, evitando assim sobrecarregar o órgão federal. Falcão
acrescenta ainda o Rio Grande do Sul lavrou 91,6% do valor das multas
de fauna no Brasil em 2005, num total de 1.077 autos de infração.
Criada em fevereiro de 1998, a Lei dos Crimes Ambientais, considera
os animais, seus ninhos, abrigos e criadouros naturais, propriedade do
Estado. A compra, venda, criação ou qualquer outro negócio envolvendo
animais silvestres é crime. Mas muita gente ignora a legislação, por
mais severa que seja sua aplicação. De acordo com dados divulgados
pela Rede Nacional Contra o Tráfico de Animais (RENCTAS) e o IBOPE, 33
milhões de brasileiros tem ou já tiveram um animal silvestre em casa.
E o mais grave: de dez animais silvestres capturados vivos, apenas um
chega ao seu destino final. O cruzamento dessas informações perfaz um
número de 600 milhões de animais.
Uma das dificuldades de combater o tráfico de animais é a
lucratividade. Quanto mais ameaçada e mais rara a espécie, mas
lucrativo se torna o crime ambiental. Além da captura, que retira os
animais de seu habitat, as técnicas usadas para o transporte dos
animais, se caracterizam pela crueldade. Flamingos enrolados em meias
de nylon, para diminuir de tamanho, são empilhados uns sobre os
outros. Pássaros são enrolados em canudos de papéis e alguns têm os
ossos do peito quebrados para serem transportados em canos de pvc e
outros têm os olhos perfurados para, cegos, não verem a luz do sol e
assim não denunciarem o crime com seu canto.
Para a analista ambiental do Núcleo de Fauna do IBAMA/RS, Cibele
Indrusiak, "enquanto os brasileiros não assumirem sua responsabilidade
na conservação, continuaremos firmes no caminho da extinção de várias
espécies nos próximos anos".
Apesar da dimensão do problema, a fiscalização do IBAMA vem
alcançando bons resultados, como a Operação Trinca-Ferro, uma ação de
investigação e fiscalização realizada no ano passado pelo IBAMA,
Polícia Ambiental da Brigada Militar e Polícia Federal.Essa foi a
primeira vez que uma ação de combate ao tráfico de animais silvestres
conseguiu, caracterizar a formação de quadrilha, prender os
responsáveis e promover uma ação integrada em cinco Estados. Segundo
Fernando Falcão, o IBAMA/RS vem concentrando suas ações com relação à
fauna, em especial no que se refere aos passeriformes, em quatro alvos
específicos: fiscalização de criadores e criatórios; em torneios de
cantos de pássaros; atendimento de denúncias e operações específicas.
Fernando Falcão alerta que eventos de canto de pássaros " bastante
freqüentes na Região Metropolitana " devem ser autorizados pelo IBAMA.
Pesca predatória
Ao lado do tráfico de animais, a pesca predatória é outro grave
problema ambiental no Estado Com seus 620 quilômetros de extensão, o
litoral gaúcho, segundo em extensão no Brasil, é local de pesca
privilegiado, sendo historicamente ponto preferência de pescaria na
região Sul e Sudeste do Brasil. Mas por outro lado, é área prioritária
para conservação. Neste caso, a fiscalização do IBAMA/RS vem
realizando ações tanto na captura, com a autuação dos barcos que
realizam o arrasto na faixa de três milhas da costa, atingindo
principalmente espécies ameaçadas de extinção como a raia viola
(Rhinobatus horkelii) e o cação anjo (Squatina sp), como também na
comercialização (processamento, transporte e comercialização. Como
ação complementar, vem sendo solicitado à Secretaria Especial de
Aqüicultura e Pesca (SEAP) a suspensão do registro de pesca dos barcos
infratores, em uma tentativa de inviabilizar a reincidência do crime
ambiental.
(Por Maria Helena Firmbach Annes, Ibama/RS, 18/12/2006)