Recifes de coral somem 20 vezes mais rápido que florestas
2006-12-18
A mudança do clima faz com que recifes de coral desapareçam 20 vezes mais rápido que as florestas tropicais, segundo o presidente da Sociedade Americana de Oceanografia e Limnologia, o português Carlos Duarte. Os últimos dados obtidos por Duarte mostram que a taxa de perda de recifes está em torno de 9% ao ano. Além disso, entre 2010 e 2020 as massas de corais serão afetadas principalmente pela doença do "embranquecimento", causada pelo aumento de temperatura das águas.
Se a temperatura da água for superior a 29 graus centígrados, os corais sofrem "estresse térmico" e expulsam zooxantelas, algas microscópicas que conduzem alimento e contribuem para o vivo colorido dos recifes. Caso não consigam recuperar esses nutrientes, a perda pode levar à morte dos organismos marinhos. Segundo Duarte, em entrevista à Efe, os efeitos da mudança climática são maiores em outros ecossistemas marítimos, como as florestas de mangue, que registram uma perda anual de 2%; as restingas, com 1%; e as pradarias submarinas, com uma taxa de entre 2% e 5%.
As pradarias submarinas estão desaparecendo principalmente no Mediterrâneo. Para o pesquisador, a culpa é da pesca predatória, que desencadeou um deslocamento da cadeia trófica de peixes, medusas e organismos gelatinosos. A pesca de grandes predadores, como o atum, fez com que os oceanos se enchessem de medusas, disse Duarte. Uma vez instalados, esses animais marinhos depredam larvas de peixes, minando os esforços de recuperação dos recifes.
Ártico - Para o biólogo, outros habitat oceânicos bastante afetados são os pólos, especialmente o Ártico, "que começou a perder a cobertura de gelo e já estão ocorrendo mudanças na circulação das correntes marinhas". Segundo estudo de cientistas canadenses e americanos divulgado semana passada, a camada de gelo que cobre o Ártico poderá desaparecer completamente até 2040.
Na opinião de Duarte, que trabalha no Imedea - Instituto Mediterrâneo de Estudos Avançados, no arquipélago espanhol Baleares, estes cálculos são "conservadores", pois esta camada poderia desaparecer "inclusive antes", danificando seriamente a biodiversidade da fauna ártica. "Quando o gelo desaparecer, o oceano absorverá grandes quantidades de radiação ultravioleta e esta absorção será tal que acelerará o aquecimento global no resto do planeta", afirmou o presidente da Sociedade Americana de Oceanografia e Limnologia.
Em geral, disse Duarte, a qualidade da água piora por causa dos resíduos agrícolas, industriais e urbanos, que causam eutrofização, ou seja, excesso de nutrientes e matéria orgânica e hipoxia (redução nas quantidades de oxigênio). Duarte afirmou que os esforços internacionais para proteger os oceanos estão muito aquém das medidas para preservar a biodiversidade terrestre. Segundo as previsões do pesquisador, o mar será no futuro a principal fonte de energia e alimento da qual dependerá a humanidade.
(Efe, 18/12/2006)
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