Quatro perguntas para José Truda Palazzo Jr., o “maluco das baleias”
2006-12-18
O ambientalista José Truda Palazzo Jr. é vice-comissário do Brasil na Comissão Internacional da Baleia, atividade que lhe permite acompanhar, em esfera mundial, todas as relações legais e ambientais a permearem o processo de conservação – em alguns casos, extinção – destes animais fantásticos.
Truda conduz no país o Projeto Baleia Franca, sediado na Praia de Itapirubá, Imbituba, em Santa Catarina, mantido em parceria entre a Petrobras e a Coalizão Internacional da Vida Silvestre – IWC (da sigla International Wildlife Coalition), entidade que ele dirige no Brasil.
Já apelidado de “maluco das baleias”, alcunha com a qual se diverte, Truda faz, nessa entrevista, uma retrospectiva de 2006 no que se refere à proteção deste membro da fauna constantemente sujeito a ameaças.
AmbienteBrasil - Em âmbito internacional, que balanço o senhor faz em relação à preservação das baleias?
Truda Palazzo Jr. - Os últimos tempos têm sido de muita preocupação em relação à escalada da caça de baleias por países hiper-desenvolvidos que não respeitam a moratória mundial da atividade decretada pela Comissão Internacional da Baleia. Japão, Noruega e agora a Islândia estão voltando a matar baleias sob os mais diversos pretextos, desde a caça "científica" até objeções legais à moratória. Entretanto, é preciso lembrar que, há uns vinte anos, a CIB estava discutindo quotas legais de caça na casa dos vários milhares de baleias por ano; logo, ainda estamos bem melhor do que no século XX.
Precisamos é impedir que a matança volte a se alastrar. Para isso, é preciso que o Brasil amplie os esforços diplomáticos de alto nível junto aos países de suas relações. Uma boa notícia é a integração cada vez maior entre os países latinos para impedir que a matança volte a acontecer em nossa região e para fazer frente sólida contra os interesses imperialistas japoneses nos mares do hemisfério sul.
AmbienteBrasil - E no Brasil, houve avanço ou retrocesso?
Truda - Certamente estamos ainda na fase dos avanços; de país baleeiro até 1985, nos transformamos, graças a um intenso diálogo e colaboração entre governo e sociedade civil, num dos países mais importantes no front internacional de defesa das baleias. É preciso sobretudo reconhecer o trabalho que vem sendo feito pela Divisão do Mar, Antártida e Espaço do Ministério das Relações Exteriores e, pessoalmente, pela conselheira Maria Teresa Mesquita Pessôa à frente da representação brasileira no tema, sem medo de afrontar os interesses anti-conservação.
Não obstante, precisamos estar atentos para que as questões nacionais não representem um retrocesso para a imagem e o trabalho do Brasil no plano internacional.
AmbienteBrasil – Como assim?
Truda - Essa campanha absurda que a atual gestão da Casa Civil vem fazendo, como fachada de empreiteiras e empresas transnacionais do ramo energético, para derrubar a legislação ambiental federal, é um escândalo, porque pode se refletir diretamente na abertura de áreas de reprodução das baleias, como o Banco dos Abrolhos, e áreas costeiras sensíveis onde vivem pequenos cetáceos ameaçados, para a degradação desenfreada.
Nenhum brasileiro semi-alfabetizado deveria acreditar nessa esparrela de que é a conservação da Natureza que trava o desenvolvimento; trata-se de uma fabricação grosseira de um bode expiatório para tapar a incompetência de outros setores do governo, em particular da própria Casa Civil, que ao invés de articular, "frita" a área ambiental como desculpa da falta de resultados próprios. É hora dos ambientalistas, juristas e cidadãos de bem fazerem um levante contra essa enganação travestida de "desenvolvimento", que pode representar uma ameaça tanto para as baleias e o seu ambiente como para a própria imagem do Brasil no Exterior.
AmbienteBrasil - Quais são as espécies de baleia hoje mais ameaçadas e onde se concentram tais ameaças?
Truda - Em termos numéricos, pode-se dizer que as baleias francas dos hemisférios norte e sul, com respectivamente cerca de 350 e 7.000 animais sobreviventes, estão entre as mais ameaçadas, seguidas de perto por gigantes como as baleias azuis e fin no hemisfério sul, reduzidas a poucas centenas de exemplares por décadas de matança criminosa. A proteção contra a caça é um processo recente, e serão necessárias muitas décadas até que as populações efetivamente se recuperem.
Agora, além de impedir a volta da matança em larga escala, que o Japão vem tentando conseguir com a "compra" de votos de países pequenos e pobres na CIB, as baleias enfrentam um perigo adicional na forma das mudanças climáticas vertiginosas que vêm acontecendo. Já há indícios claros de que as cadeias biológicas dos oceanos estão sendo afetadas por essas mudanças induzidas pelo homem, e não se sabe ao certo qual a gravidade dessas mudanças para o futuro das baleias. Portanto, se quisermos assegurar que elas sobrevivam, precisamos não apenas continuar impedindo sua matança no presente, lutando com unhas e dentes para manter o Japão longe do Atlântico Sul (que o Brasil segue propondo como Santuário permanente de baleias), mas também lembrando delas e dos oceanos no nosso dia-a-dia, usando menos combustíveis fósseis, economizando energia, reciclando, plantando, e principalmente jogando tomates nos maus políticos que apoiarem a campanha sórdida contra a legislação ambiental. O futuro das baleias e o nosso estão inextricavelmente ligados, e só uma mudança radical de atitude de todos fará com que esse planeta sobreviva à nossa irresponsável geração.
(Por Mônica Pinto, 16/12/2006)
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