Arquipélago português tem potencial para auto-suficiência energética
2006-12-18
“Os Açores tem potencial para a auto-suficiência energética” – quem o afirma é o responsável pelo Laboratório de Ambiente Marinho e Tecnologia da Universidade dos Açores (LAMTec), Mário Alves no âmbito da Conferência Transatlântica sobre Energias Renováveis que decorreu, este último fim de semana, na Ilha Terceira.
No encontro que reuniu no Centro Cultural e de Congressos de Angra e no Auditório do Ramo Grande da Praia da Vitória cerca de três centenas de participantes portugueses, europeus e norte americanos, o investigador afirma que o futuro energético açoriano poderá ser suportado em “50 por cento em energias renováveis e 50 por cento em energia termoeléctrica e hidrogénio” no que diz respeito ao sistema eléctrico regional.
Mário Alves chamou a atenção para a necessidade de um “novo paradigma energético” nas ilhas, não só em termos de produção, como de armazenamento, transporte, distribuição e no tocante às fontes renováveis.
Dependência fóssil a 97 por cento
Segundo o director do LAMTec, a “Região está dependente 97% de combustíveis fósseis”, sendo praticamente residual a energia produzida pelas energias renováveis. Em 2004, o consumo de energia dos Açores foi de 285 mil toneladas de petróleo. Neste momento, os Açores, explicou, estão “sujeitos à vulnerabilidade” da microgrelha eléctrica existente cujos problemas “tem de ser resolvidos pelas energias renováveis”.
Segundo dados de 2003, das quatro principais fontes existentes nos Açores, a termoeléctrica é a principal em todas as ilhas, seguindo-se a hidro-eléctrica, a eólica e a geotérmica. Em termos de combustíveis, o arquipélago está dependente de uma rede vinda do exterior em que o fuel é a principal importação, seguindo-se o gasóleo e a gasolina.
Nas energias renováveis, Mário Alves destacou o investimento que a ser feito no aproveitamento das ondas, exemplificou, numa frente de mar de 40 km, poderia produzir 440 MegaWatts de energia eléctrica para produzir combustíveis.
Perante um cenário que os cientistas mundiais apontam para um decréscimo dos recursos não renováveis, que contam com uma dependência de cerca de 80 por cento nos fósseis – em que 20 por cento é usada na electricidade, mas apenas com 8 por cento tem efectiva utilização– as maiores consequências, apontou Mário Alves, vão para a “degradação” da atmosfera, da natureza e dos ambientes líquidos.
Importar menos 60% de petróleo
O presidente da Câmara do Comércio e Indústria de Angra do Heroísmo (CCIAH), Sandro Paim, reforçou a necessidade de apostar nas energias verdes, afirmando que dentro de uma década os Açores poderão importar menos cerca de 60 por cento de petróleo. "Se o Governo Regional e os empresários efectuarem as apostas certas nas energias alternativas não só se poupará na importação de petróleo como se abre um potencial de desenvolvimento das ilhas", assegurou o responsável.
O presidente da CCIAH que, em conjunto com a Câmara Municipal de Angra do Heroísmo e Praia da Vitória organizou a “Conferência Transatlântica Sobre Energias Renováveis” defendeu a criação de "pólos tecnológicos", numa parceria entre empresários e a universidade.
A "Conferência Transatlântica sobre Energias Renováveis" contou com a participação de membros do Parlamento Europeu, do Congresso Norte-Americano, de responsáveis políticos de Portugal, Estados Unidos, Canadá e Europa. Participam também empresários, técnicos e cientistas que ao longo de dois dias de trabalho debateram os seguintes painéis: "Energia Inteligente”, "Energias Sustentáveis, Opções para o Futuro”, “Melhorar o Enquadramento Legislativo para as Energias Renováveis”, “À Procura de um Carro Limpo” e “As Energias Sustentáveis e os Açores”.
(União, 17/12/2006)
http://www.auniao.com/ler.php?id=4825