Cientista holandês volta a defender o enxofre como solução para diminuir o efeito estufa
2006-12-18
Paul Crutzen, vencedor do Prêmio Nobel de Química, afirma que possui novos dados que indicam que tem fundamento sua polêmica teoria de lançamento de enxofre na atmosfera para cancelar o efeito estufa. Em uma conferência da Escola Porter para Estudos Ambientais, em Tel Aviv, o meteorologista holandês mostrou o que chama de efeito positivo de resfriamento resultante da adição de uma camada de sulfatos à atmosfera.
Apesar de um projeto do tipo não poder ser implementado em menos de dez anos, os dados divulgados agora pretendem rebater as críticas recebidas por Crutzen depois que ele divulgou a idéia pela primeira vez, na edição de agosto da revista Climatic Change.
Segundo Crutzen, minuciosos cálculos realizados desde agosto mostraram que seu projeto conseguiria efetivamente baixar as temperaturas da Terra. "Nossos cálculos, para os quais usamos os melhores modelos disponíveis, mostraram que a injeção de 1 milhão de toneladas de enxofre por ano conseguiria baixar as temperaturas, anulando o efeito estufa", afirmou o cientista à Reuters.
A adição de uma camada de sulfatos na atmosfera, a cerca de 16 quilômetros da superfície da Terra, refletiria a luz do Sol para o espaço e reduziria a radiação solar que chega ao solo, afirmou Crutzen. O cientista sugere que canhões ou balões gigantescos dispersem o enxofre capaz de reverter o processo de aquecimento provocado pelo acúmulo de gases como o dióxido de carbono, liberado principalmente na queima de combustíveis fósseis em usinas de energia, fábricas e veículos.
O mundo luta há décadas para reduzir a poluição provocada pelo enxofre, um componente da chuva ácida responsável por dizimar florestas e peixes. "Estamos, agora, entrando em um período muito intenso de modelos de cálculo. Depois disso, realizaremos pequenos experimentos para testar os mecanismos de oxidação sulfúrica que calculamos", disse Crutzen.
Tabu do passado - O meteorologista afirmou que pretende divulgar suas novas descobertas dentro de alguns meses, em uma das grandes revistas científicas do mundo. Não é nova a idéia de usar enxofre para enfrentar o aquecimento global - que, conforme a grande maioria dos cientistas, elevará o nível dos oceanos e tornará mais intensos os processos de desertificação, as enchentes e as ondas de calor.
Em 1991, na erupção do monte Pinatubo, nas Filipinas, os cientistas notaram que o fenômeno havia conseguido baixar as temperaturas mundiais durante dois anos. Ao longo dos anos, porém, a idéia foi considerada arriscada demais. Isso até Crutzen, que recebeu o Nobel em 1995 por suas pesquisas sobre o ozônio, ter publicado seu estudo.
"Até agosto, isso era um tabu. Mas o estudo que publiquei provocou algumas mudanças nessa área. Eu nunca fui ouvido tão atentamente quanto nos últimos meses. Isso pode ter relação com o Nobel, mas espero que não seja apenas isso", afirmou Crutzen. Alguns dizem que o projeto é arriscado demais e que terá efeitos negativos sobre o suprimento de água da Terra e que tornará mais comuns as chuvas ácidas.
Segundo Crutzen, é necessário estudar as consequências negativas de sua idéia. Mas ele acredita que o projeto não aumentaria o volume das chuvas ácidas porque a quantidade de enxofre injetado representaria uma pequena porcentagem dos sulfatos que poluem as camadas mais baixas da atmosfera hoje.
Alguns grupos ambientalistas, sempre reticentes quanto a projetos de geo-engenharia, dizem que a idéia merece ser analisada. "O fato de importantes especialistas da área dizerem que isso seria necessário mostra a situação lamentável a que chegamos", afirmou Steve Sawyer, assessor político do grupo Greenpeace International. "Essa idéia merece ser analisada. E, como último recurso, ela poderia nos dar algumas décadas de folga", disse Sawyer.
(Reuters, 18/12/2006)
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