Os gorilas, nossos parentes mais próximos na árvore da evolução, ao lado
dos chimpanzés, estão ameaçados por várias frentes: caçadores de
animais, guerras tribais nas florestas em que vivem e aldeões esfomeados
que os consideram uma refeição barata. Há, agora, um perigo ainda mais
difícil de conter: uma epidemia de ebola. Esse vírus, que ataca gorilas,
chimpanzés e o homem por igual, provoca febre alta e hemorragia intensa.
A taxa de mortalidade é de nove em cada dez infectados. Um estudo
publicado na revista Science, na semana passada, revelou que a epidemia
de ebola matou 5.000 gorilas na região do Santuário de Lossi, no
noroeste da República do Congo, entre 2002 e 2005.
Alguns cientistas acreditavam que os gorilas estavam contraindo o vírus
de outras espécies de animais. Descobriu-se na pesquisa que, na verdade,
a rapidez com que o vírus está se espalhando se deve ao fato de os
gorilas estarem contaminando uns aos outros. Tanto nos homens como nos
animais, o ebola pode ser transmitido pelo contato direto com o sangue,
secreções e outros fluidos. O risco de contágio entre os gorilas é ainda
maior porque os animais têm o hábito de comer as fezes uns dos outros.
Um dos autores do estudo, o ecólogo Peter Walsh, do Instituto Max Planck
de Antropologia Evolutiva de Leipzig, na Alemanha, estima que um quarto
dos gorilas do mundo já tenha morrido por causa do vírus ebola.
Walsh pesquisa os gorilas da República do Congo desde 1995, junto com
cientistas da Universidade de Barcelona e da Universidade Uppsala, na
Suécia, que também participaram do estudo. Os pesquisadores encontraram
os primeiros sinais de uma epidemia entre os gorilas há quatro anos. O
ebola que infesta uma região de 5 000 quilômetros quadrados ao redor do
Santuário de Lossi é do tipo Zaire, o mais letal. Para colher as
amostras, os pesquisadores correram alto risco: para estudar os corpos
dos primatas na selva foi preciso usar máscaras e roupas especiais para
evitar a contaminação.
Os autores do estudo acreditam que seria possível
conter a expansão da epidemia vacinando os gorilas. O problema é que as
vacinas ainda estão em fase de teste em laboratórios e, mesmo quando
estiverem prontas, será difícil aplicá-las em animais que vivem livres
na floresta. "As injeções terão um custo alto e demandarão muito tempo",
disse a VEJA o biólogo americano Leslie Real, especialista em ebola da
Universidade Emory, em Atlanta, nos Estados Unidos. Não bastasse o
ebola, outro estudo divulgado na semana passada mostra que o vírus da
aids também infecta gorilas. Cientistas do Instituto de Pesquisa para o
Desenvolvimento de Montpellier, na França, descobriram um grande número
de gorilas das planícies ocidentais infectados com o SIV (vírus da
imunodeficiência símia) – o microrganismo que, acredita-se, deu origem
ao HIV.
(Por Denise Dweck,
Veja, 20/12/2006)