Cachoeira do Sul corre risco de perder a Granol
2006-12-15
A Granol ainda está em fase de testes em Cachoeira do Sul, mas já começa a pensar em
fechar as portas e deixar o Rio Grande do Sul. O risco iminente de fechamento da unidade
cachoeirense foi confirmado no final da tarde de ontem. Segundo o responsável pela área
de novos projetos da Granol, Cláudio Tonol, a empresa está com dificuldade para conseguir
do Governo do Estado a formalização dos incentivos que foram pré-estabelecidos em julho
de 2005. Segundo Tonol, o problema está na liberação de refino do óleo de soja bruto, que
é produzido em Cachoeira do Sul, em uma refinaria do Rio Grande do Sul.
O secretário estadual de Desenvolvimento e Assuntos Internacionais, Luís Roberto Ponte,
disse ontem que está trabalhando para resolver este impasse. Segundo ele, o Governo do
Estado terá que adaptar as regras dos incentivos. “Os planos apresentados pela Granol
foram para usar o óleo na produção de biodiesel. Os incentivos para o refino do óleo estão
garantidos se isso fosse feito pela própria empresa, na unidade de Cachoeira do Sul. Como
a Granol não instalou uma refinaria em Cachoeira, não podemos garantir imediatamente os
incentivos para que a industrialização seja feita por terceiros”, explica Ponte.
CARREGAMENTO - Funcionando com capacidade limitada em 25%, conforme condicionado pela
Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), a Granol/Cachoeira do Sul fará no próximo
dia 20 o embarque de óleo bruto genuinamente cachoeirense para a Europa. O produto será
levado de caminhões até o Porto de Rio Grande, onde será embarcado em navios. “Este óleo
poderia ser refinado no Rio Grande do Sul, em uma indústria que está funcionando com
apenas um terço de sua capacidade. Como o Estado não está permitindo esta operação, vamos
vender o óleo para o exterior. Se continuar assim, a Granol/Cachoeira do Sul não terá
condições operacionais para competir no mercado e poderá fechar. Se isso acontecer,
deveremos levar a indústria para outro estado”, alertou Tonol.
Importante
O prefeito Marlon Santos disse quarta-feira (13/12) que está fazendo de tudo para atender
todas as necessidades da Granol, mas que tem limitações quando a decisão depende do
Governo do Estado. “Conheço o protocolo de intenções, pois eu também assinei este
documento. O Governo do Estado corre o risco de responder por improbidade se estender os
benefícios concedidos para a Granol caso ela envolva outras empresas no processo de
refino do óleo. Pelo lado da Granol, sei que é possível criar esta oportunidade, mas esta
possibilidade está prevista de uma forma subjetiva. Confio muito no trabalho do secretário
Ponte, ele é 10, e sei que está empenhado em resolver esta situação da melhor maneira”,
analisa Marlon.
PARA ENTENDER MELHOR
Qual o problema da Granol
> A empresa paulista Granol comprou e reativou o complexo da Centralsul em Cachoeira do
Sul. Em julho do ano passado, a empresa assinou com o Governo do Estado um protocolo de
intenções, onde estão previstos os incentivos que serão dados para a indústria.
> A Granol alega que já fez a sua parte, que investiu cerca de R$ 10 milhões de recursos
próprios na unidade de Cachoeira e que já está produzindo farelo e óleo bruto de soja. As
etapas seguintes de beneficiamento dependem de novos investimentos. A indústria de
biodiesel está nos planos, mas irá demorar pelo menos seis meses para ficar pronta após o
início da construção. A intenção é começar as obras em fevereiro.
> O óleo de soja que já está sendo produzido em Cachoeira do Sul deve ser refinado para
chegar à mesa dos consumidores na forma de azeite. Este processo é feito em refinarias que
a Granol tem em São Paulo, mas não no Rio Grande do Sul. Para levar o óleo até São Paulo,
a empresa gastaria muito e inviabilizaria o negócio.
> O pedido da Granol é para que os incentivos do Governo do Estado sejam concedidos mesmo
com o refino do óleo em outras refinarias. Sem ter esta confirmação, a Granol está vendendo
para a Europa o óleo que está produzindo. Desta forma, o Rio Grande do Sul deixa de
agregar riquezas, pois a industrialização, que depende de investimentos e mão-de-obra,
será feita em outro país.
> A Granol não teria a necessidade de depender de refinaria de terceiros se a liberação da
área para a construção da usina de biodiesel, a Grandiesel, não tivesse demorado tanto.
A usina projetada para Cachoeira do Sul acabou sendo construída em Anápolis (GO). Se a
Grandiesel estivesse pronta, ou quase pronta, todo o óleo esmagado em Cachoeira do Sul
iria abastecer esta indústria. O projeto da Grandiesel está orçado em pelo menos R$ 44
milhões.
> A Granol iniciou o processo de esmagamento de soja em Cachoeira do Sul há menos de um
mês e está gerando cerca de 80 empregos. Quando receber licença para funcionar a pleno,
permissão da Fepam para usar 100% de sua capacidade, a empresa deverá empregar 130
trabalhadores e poderá esmagar cerca de 1,5 mil toneladas de soja por dia, quantidade que
precisa de pelo menos 40 carretas para fazer o transporte.
(Jornal do Povo, 14/12/2006)
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