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2006-12-15
Novo lago biodiverso A riqueza genética da área inundada pelo represamento do rio Tocantins, em 1984, após o fechamento das comportas da Usina Hidrelétrica de Tucuruí, no Pará, acaba de ser resgatada pelo Museu Paraense Emílio Goeldi. O livro "Ilha de Germoplasma de Tucuruí - Uma Reserva de Biodiversidade para o Futuro", lançado em parceria com as Centrais Elétricas do Norte do Brasil (Eletronorte), reúne informações científicas e ilustrações das principais espécies florestais da região.

A diretora do museu e organizadora da obra, Ima Célia Vieira, explica que o represamento do rio Tocantins deu origem a um lago que cobriu mais de 280 mil hectares, sendo 200 mil hectares de floresta primária. As áreas mais elevadas transformaram-se em ilhas, sendo que uma delas, com 129 hectares, foi escolhida para abrigar um banco de germoplasma (conjunto de genótipos) e garantir a conservação de material genético para uso futuro.

“A Ilha de Germoplasma possui dois bancos de material genético: um é composto pela própria floresta nativa remanescente (in situ) e outro (ex situ) resultado da coleta e plantio de sementes oriundas de toda a área alagada em Tucuruí”, disse Ima Célia. “A publicação é fruto de mais de 20 anos de pesquisas de campo para a conservação do material genético desses dois bancos”, explica.

Segundo ela, sementes de 82 espécies diferentes foram coletadas antes da formação do lago, em 1984, para a criação do banco ex situ em uma área de 22 hectares da ilha. Hoje, as espécies originais estão todas submersas. “Na época, as espécies foram catalogadas, georreferenciadas e inseridas em um banco de dados criado pela Eletronorte”, conta.

Do banco de dados ex situ, o livro apresenta detalhes técnicos de pouco mais de 30 espécies vegetais consideradas raras ou com alto valor econômico. Informações como viabilidade genética, produção de sementes, taxas de mortalidade e crescimento médio das árvores são acompanhadas de ilustrações em aquarela das árvores.

No outro lado da Ilha de Germoplasma de Tucuruí, formado pelo banco in situ, os trabalhos de campo identificaram 221 espécies de árvores remanescentes do alagamento, pertencentes a 50 famílias. As informações de algumas dessas espécies também foram registradas na obra.

Segundo Ima Célia, praticamente todas as 82 espécies do banco de germoplasma ex situ de Tucuruí ainda estão viáveis geneticamente. “Elas conseguiram se reproduzir ao longo das duas décadas, gerando o banco atual com mais de 11 mil árvores”, disse. “Isso comprova que elas podem ser usadas para o manejo de outras regiões do país”, conta.

Para ela, os dados do livro poderão ser utilizados para subsidiar estratégias futuras de conservação da Amazônia. “A Ilha de Germoplasma é uma das áreas do país que melhor representam a biodiversidade amazônica. Com a integração dos bancos de dados, pensamos na possibilidade de criação de um laboratório nacional para o armazenamento de sementes que servirão para a revitalização de áreas degradadas”, conta.

Os pesquisadores Noemi Vianna Leão, da Embrapa Amazônia Oriental, Selma Toyoko Ohashi, da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), e Rubens Ghilardi Jr., da Eletronorte, são os outros autores do livro, que será distribuído gratuitamente a entidades de ensino e pesquisa, bibliotecas públicas e pesquisadores das áreas de botânica e engenharia florestal.
(Por Thiago Romero, Agência Fapesp, 15/12/2006)

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