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2006-12-14
O primeiro dia de testes sobre a capacidade de geração de energia a gás natural no Brasil confirmou as deficiências do setor e pouco mais de um terço da eletricidade solicitada foi fornecida. Seis das 13 térmicas examinadas não tiveram condições de entrar em operação por falta de combustível. Outras três geraram menos do que o previsto.

O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) solicitou o despacho de 4.846 megawatts (MW) médios de termelétricas a gás, mas apenas 1.756 MW médios foram entregues.

O teste foi realizado na segunda-feira (11/12), por determinação da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que pretende descobrir qual a real capacidade de geração das térmicas. Como revelou o Estado em setembro, usinas térmicas, usadas como backup de energia, estavam paradas por falta de gás e, quando foram chamadas a fornecer ao sistema, não tiveram condições, o que representa risco ao abastecimento.

O diretor-geral da Aneel, Jerson Kelman, disse que o resultado do primeiro teste não foi muito significativo, pois ainda faltam 11 dias para a checagem ser concluída. "Foi apenas o primeiro dia, não podemos ser pessimistas", afirmou. Os testes se repetirão diariamente até a meia-noite do dia 22/12.

No mês passado, a Aneel foi obrigada a intervir no mercado, depois que diversas usinas não conseguiram cumprir o compromisso de entregar energia.

Segundo o ONS, as usinas Canoas, Macaé, Barbosa Lima Sobrinho, Nova Piratininga, Campos e Piratininga não geraram um megawatt sequer no teste de ontem, alegando falta de gás. A usina Ibirité gerou apenas 8 MW médios, ante uma previsão de 226 MW médios. Termorio e Araucária operaram com capacidades abaixo do previsto, a primeira com restrições na entrega de gás e a segunda, devido à "má qualidade do gás natural", diz o relatório. O ONS não se pronunciou.

O resultado comprova o cenário pessimista traçado após a virada de agosto para setembro, quando as térmicas foram chamadas a operar mas estavam indisponíveis. Na época, a Petrobrás alegou que tinha problemas de compressão na malha brasileira de gasodutos e que o volume de importações da Bolívia estava reduzido devido aos danos causados na tubulação por fortes chuvas

Por isso, o governo decidiu realizar os testes agora, após a solução dos problemas nos gasodutos, ao invés de reduzir a capacidade de geração das térmicas com base nos volumes gerados naquela ocasião, como queria a Aneel. Mesmo assim, a Petrobrás informou anteontem que só tem contratos de gás para uma capacidade de 2,1 mil MW médios, menos da metade do solicitado pelo ONS durante os testes.

Em setembro, havia sido solicitada a geração de 5,3 mil MW pelas térmicas, mas pouco mais de 1 mil MW foram entregues. O déficit levou o ONS a solicitar usinas mais caras e poluentes, a carvão ou óleo, além de gastar mais água doce de reservatórios das hidrelétricas.

"Teremos um período turbulento entre 2007 e 2008, porque não há novas fontes de suprimento de gás e investimentos em geração têm um longo tempo de maturação", diz o professor Edmar Almeida, do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Em 2009, lembra, a Petrobrás estará importando gás natural liquefeito (GNL), que será voltado prioritariamente para a geração de energia.
(Por Nicola Pamplona, O Estado de S. Paulo, 13/12/2006)
http://www.estadao.com.br/ultimas/economia/noticias/2006/dez/13/162.htm

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