Dois irmãos que não davam valor à vida animal e desdenhavam da Lei de Crimes Ambientais,
caíram na rede de fiscalização do Ministério Público de Cachoeira do Sul. Acostumados a
pescar e, principalmente, caçar até espécimes ameaçadas de extinção, ambos foram
capturados em uma arapuca armada no início desta manhã. A operação “Capivara” teve apoio
da Promotoria de Justiça Especializada Criminal da Capital. Além de agentes da
Força-Tarefa, participaram soldados do Batalhão Ambiental de Porto Alegre e homens da
Polícia Rodoviária Federal. Todos cumpriram mandado de busca e apreensão em sete pontos do
distrito de Piquiri – zona rural da cidade.
Um policial militar, de 42 anos, e seu irmão, de 32, não reagiram à prisão e foram
flagrados nos locais onde estavam com carne de caça. Este último tinha um tatu-galinha
inteiro, inclusive com o casco, no seu freezer, além de carne e cauda de um
jacaré-de-papo-amarelo. Peles de um gato-do-mato e de um ratão-do-banhado também estavam
em seu poder. Com o PM, que atuava num posto avançado da Brigada Militar fixado no
lugarejo, foi apreendido o revólver da corporação, duas armas de caça calibres 12 e 28,
farta munição, várias facas de corte, duas redes de pesca malha 13, peixe e pernis de
capivara congelados. Outras armas de caça, munições, redes e quilos de carne de caça
foram apreendidas em outros locais de busca. O flagrante foi lavrado na Delegacia de
Polícia de Cachoeira do Sul. O soldado será encaminhado ao Batalhão de Operações Especiais
de Santa Maria e seu irmão ficará recolhido no Presídio Municipal.
Os mandados foram deferidos pela Justiça de Cachoeira do Sul, atendendo pedido da
promotora Justiça Giani Saad, que havia ajuizado ação cautelar. Há dois meses, a Promotora
que atua na área de defesa comunitária, instaurou inquérito civil para apurar denúncias de
moradores da localidade de Piquiri. Eles sentiam-se ameaçados pelo soldado da BM.
Testemunhas relataram que há dois anos ele intimidava pessoas e usava de abuso de
autoridade. Em virtude dessa postura hostil, moradores chegaram a procurar, antes, a
Polícia Civil e a própria Corregedoria da Brigada Militar, em Porto Alegre.
Durante a investigação para responsabilizá-lo por atos de improbidade administrativa no
exercício do cargo público, o Ministério Público soube que o militar – que responde
processo criminal por atear fogo em uma casa do vilarejo – era um caçador contumaz,
praticava a caça desenfreada na região e não dava a mínima importância para a lei. Ao ser
detido na ação que contou, também, com a participação do promotor Mauro Rockenbach, da
Especializada Criminal, e do promotor criminal de Cachoeira do Sul José Nilton de Souza, o
militar mostrou-se alheio à decisão da Justiça Federal que, através de uma liminar,
proíbe há dois anos a caça no Rio Grande do Sul. Também admitiu que desde adolescente
“tenho esse vício que precisa acabar, senão vou me matar”. A carne apreendida será,
provavelmente, enviada à Fundação Zoobotânica para perícia.
(Por Marco Aurélio Nunes, Ministério Público do RS, disponível em
Ecoagência, 12/12/2006)