(29214)
(13458)
(12648)
(10503)
(9080)
(5981)
(5047)
(4348)
(4172)
(3326)
(3249)
(2790)
(2388)
(2365)
2006-12-13
As crianças que velejam no Iate Clube Guaíba, na Zona Sul de Porto Alegre, estão proibidas de entrar em contato direto com a água fétida. Usam roupas de borracha dos pés à cabeça e luvas impermeáveis para se protegerem. Deslizam nas águas ao lado de um ou outro biguá e desviam de toneladas de lixo e areia. A polêmica sobre a construção do conduto forçado - que despeja esgotos cloacal e pluvial dentro do clube - está fora das páginas dos jornais há quatro anos, mas quem convive com o crime ambiental não esquece.

A administração do Iate Clube Guaíba recolhe cinco toneladas por semana de lixo que desce dos boeiros pela galeria. A equipe do AmbienteJÁ viu uma grande quantidade de pneus, garrafas PET e até uma bolsa de viagem boiando próximo ao local que abriga as 280 embarcações dos cerca de 500 associados.

A enorme galeria de concreto armado, de 2,20 x 2,00 metros, com cerca de 3,5 quilômetros de extensão e mais um duto com diâmetro de 1,20 metro, era a promessa do Departamento de Esgotos Pluviais (DEP) para o fim dos alagamentos na Avenida Guaíba. A Prefeitura gastou R$ 5 milhões na obra, embargada pela Justiça antes da inauguração, em 2002.

Motivos não faltaram: não foi apresentado EIA-RIMA; estudos do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), por meio de um laudo e um relatório de vistoria do Ibama condenaram a obra. Além disto, o local situava-se a 150 metros da captação de águas do Departamento Municipal de Água e Esgotos (DMAE), fato que colocava em risco a qualidade do líquido fornecido à população.

Foi uma aparente vitória para os velejadores. Entretanto, algumas nascentes foram conectadas à tubulação durante a sua construção. E como não há a separação entre os esgotos pluvial e cloacal na região, empresas e moradores puderam ligar seus esgotos à rede de forma clandestina. Há indícios de que até um clube de funcionários da Secretaria Municipal de Obras e Viação (SMOV), localizado em frente ao Iate Clube, tenha feito a conexão irregular.

Resultado: enquanto o processo aguarda a decisão final da Justiça, o conduto permanece desaguando na área. Supõe-se que os dejetos venham dos bairros Camaquã, Nonoai, Cavalhada e Cristal.

Os despejos também trazem conseqüências negativas para o clube vizinho, Veleiros do Sul. Para Israel Barcellos de Abreu, geólogo e consultor ambiental do clube, o lançamento das águas do conduto modificou toda a característica da bacia: "Mesmo com essa vazão mínima - o conduto não está funcionando, apenas recebe o que já estava conectado e ligações ilegais - há um arraste de finos e lamas que afetam. Se o projeto estivesse funcionando conforme previsto inicialmente, as sedes náuticas não mais existiriam".

O clube pós-conduto
Segundo Roberto Araújo dos Santos, vice-comodoro do Iate, a administração teve de contratar dois funcionários só para cuidar do lixo. São gastos cerca de R$ 4 mil mensais em salários, combustível e manutenção dos barcos e na taxa de recolhimento dos dejetos sólidos por uma empresa contratada. Nunca receberam sequer um centavo da Prefeitura. "Seria mais fácil se fosse só o lixo, mas o que dificulta mesmo é assoreamento, tão grande que chega até a impedir o trânsito de pequenos barcos", conta.

Uma ilha que quase toca a água se formou a dez metros à frente do conduto. Ele conta que a formação se mantém submersa porque funcionários e sócios se revezam permanentemente na limpeza da área. "Numa ocasião, em 2005, me desesperei. Peguei a draga do clube e entrei na água. A areia formara uma grande ilha, impossibilitando a navegação. Fui autuado em R$ 5 mil pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMAM) por não ter licença para dragar, e o mais absurdo: por ter feito isso na área do conduto do DEP. A obra já estava embargada", lembra.

As aulas da escola náutica para jovens e crianças ficaram suspensas até o início deste ano. Santos diz que o medo dos pais inviabilizava as atividades. "Em 2004, um rapaz de 31 anos que navegava no clube morreu de leptospirose. Doenças de pele e conjuntivites são comuns em quem não se protege. Se alguém se molha, recebe orientação para sair correndo para o banho", ressalta.

Prefeitura ainda não cumpriu Termo de Ajustamento de Conduta
Em outubro de 2002, Prefeitura, clubes náuticos e comunidade se reuniram para firmar um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC). No documento, ficou acertado que o município deveria apresentar projeto para a construção de um emissário, que levasse o despejo até o canal de navegação, ou a construção de uma tubulação que conduzisse o material para o escoamento natural no Arroio Cavalhada.

Além disso, o município se comprometeu a monitorar a qualidade da água recolhida junto ao ponto de captação do DMAE e a efetuar dragagens periódicas sempre que o Iate Clube Guaíba julgasse necessário. O descumprimento do termo acarretaria em multa de R$ 5 mil por dia de atraso, contando seis meses após a assinatura.

O vice-comodoro sentou para fazer as contas. Como nenhuma das medidas acordadas foi tomada em 44 meses, a Prefeitura deve, em tese, mais de R$ 6 milhões. "É claro que não esperamos receber esse dinheiro, mas seria bom para pagar aquela multa que a SMAM emitiu para a dragagem e ajudar nas despesas com o lixo", ironiza.

DEP e DMAE se mostraram confusos nas respostas à denúncia sobre o conduto. Sérgio Zimmermann, diretor-geral em exercício do DEP, disse que a questão estava na dependência da conclusão de uma obra a ser executada pelo DMAE e pediu para que o AmbienteJÁ entrasse em contato com os representantes do Departamento Municipal de Água e Esgotos para mais informações. Sobre o desassoreamento, previsto no TAC, falou que o órgão não pode executar a ação "enquanto a obra estiver embargada e não houver a licença ambiental".

Carlos Fernando Marins, gerente do Programa Socioambiental do DMAE, disse desconhecer o fato de o conduto estar trazendo resíduos sólidos para a região do clube náutico. Alegou não ter recebido denúncias sobre o assunto. Sobre a obra, revelou que se trata da instalação de um separador absoluto. Ela levaria o esgoto cloacal para o Arroio Cavalhada e integraria o Programa Socioambiental. Marins garantiu que a parte do processo que cabe ao DMAE estará concluída até o fim de 2007.

A comodoria do Iate Clube Guaíba afirma que nenhum projeto de obra foi apresentado pela Prefeitura até agora. Roberto Araújo dos Santos está pessimista: "É engodo. Só espero que eu ainda esteja vivo quando a Prefeitura decidir fazer alguma coisa. Isso que eu tenho 48 anos".

Leia mais sobre o histórico do conduto:
Iate Clube reconhece acordo, mas alega coação
DEP e Iate Clube teriam feito acordo
Smam concedeu Licença de Instalação
Diretor do DEP diz que projeto é tecnicamente correto
Para integrante do Iate Clube, DEP tentou se livrar da dragagem
Despejo pluvial entre clubes náuticos pode aumentar poluição no Guaíba
Esgotos de novos condomínios podem ser canalizados de forma irregular
Agapan quer vistoriar obra do DEP na Zona Sul
MPE abre inquérito para investigar obra do DEP
Cosmam solicita EIA mais aprofundado sobre obra do DEP
Clubes náuticos reforçam crítica à obra do DEP
Clubes propõem mudança em projeto na Zona Sul
Assinado termo de compromisso entre Iate Clube e Prefeitura
MP cobra solução do DEP para efluentes
(Por Ana Luiza Leal, AmbienteJÁ, 13/12/2006)

desmatamento da amazônia (2116) emissões de gases-estufa (1872) emissões de co2 (1815) impactos mudança climática (1528) chuvas e inundações (1498) biocombustíveis (1416) direitos indígenas (1373) amazônia (1365) terras indígenas (1245) código florestal (1033) transgênicos (911) petrobras (908) desmatamento (906) cop/unfccc (891) etanol (891) hidrelétrica de belo monte (884) sustentabilidade (863) plano climático (836) mst (801) indústria do cigarro (752) extinção de espécies (740) hidrelétricas do rio madeira (727) celulose e papel (725) seca e estiagem (724) vazamento de petróleo (684) raposa serra do sol (683) gestão dos recursos hídricos (678) aracruz/vcp/fibria (678) silvicultura (675) impactos de hidrelétricas (673) gestão de resíduos (673) contaminação com agrotóxicos (627) educação e sustentabilidade (594) abastecimento de água (593) geração de energia (567) cvrd (563) tratamento de esgoto (561) passivos da mineração (555) política ambiental brasil (552) assentamentos reforma agrária (552) trabalho escravo (549) mata atlântica (537) biodiesel (527) conservação da biodiversidade (525) dengue (513) reservas brasileiras de petróleo (512) regularização fundiária (511) rio dos sinos (487) PAC (487) política ambiental dos eua (475) influenza gripe (472) incêndios florestais (471) plano diretor de porto alegre (466) conflito fundiário (452) cana-de-açúcar (451) agricultura familiar (447) transposição do são francisco (445) mercado de carbono (441) amianto (440) projeto orla do guaíba (436) sustentabilidade e capitalismo (429) eucalipto no pampa (427) emissões veiculares (422) zoneamento silvicultura (419) crueldade com animais (415) protocolo de kyoto (412) saúde pública (410) fontes alternativas (406) terremotos (406) agrotóxicos (398) demarcação de terras (394) segurança alimentar (388) exploração de petróleo (388) pesca industrial (388) danos ambientais (381) adaptação à mudança climática (379) passivos dos biocombustíveis (378) sacolas e embalagens plásticas (368) passivos de hidrelétricas (359) eucalipto (359)
- AmbienteJá desde 2001 -