O atual diretor-presidente da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) e
ex-deputado estadual Antenor Ferrari, 65 anos, acredita que ainda é possível reverter o
sufocamento dos rios dos Sinos e Gravataí, onde peixes têm morrido por falta de oxigênio
nas águas.
Ferrari, conhecedor das questões que envolvem os rios da Região Metropolitana - tem em seu
currículo a criação das Lei dos Agrotóxicos, em 1982, além de mais de uma centena de
autuações de curtumes por poluição na década de 80 -, está convicto de que, se o interesse
público pairar acima das disputas políticas, será possível organizar um projeto para o
tratamento de esgotos a longo prazo, condição essencial para o acesso a financiamentos
internacionais e nacionais.
Em sua edição de domingo (10/12), Zero Hora mostrou o resultado da análise da água de trechos dos
rios dos Sinos e Gravataí e de sedimento do Arroio Portão, também na Região Metropolitana e
origem de um recente desastre ambiental no Sinos. O exame, feito pelo Laboratório Green
Lab a pedido do jornal, mostrou índices de oxigênio dissolvido na água dos dois rios abaixo
do padrão e altas concentrações de nitrogênio amoniacal, elemento encontrado na urina.
Isso pode indicar o despejo de grandes quantidades de esgoto doméstico no local de onde as
amostras foram retiradas.
A análise realizada também indicou a presença de cromo no fundo do Arroio Portão. Ontem
(11/12),
Ferrari falou a Zero Hora. A seguir, trechos da entrevista:
Sociedade, Legislativo e Executivo têm de se unir
Entrevista: Antenor Ferrari, diretor-presidente da Fundação Estadual de Proteção Ambiental
(Fepam)
ZH - Quanto custaria para resolver o problema da poluição nos rios?
Ferrari - De parte das empresas, eu não saberia dizer. Certamente seria uma quantia bem
menor do que a necessidade de investimento por parte das prefeituras, que são as maiores
poluidoras dos rios, com o esgoto doméstico. Para se saber quanto seria necessário,
teríamos de ter projetos prontos. E não temos.
ZH - Alguém trabalha na feitura desses projetos?
Ferrari - O governo do Estado tem alguma coisa e também algumas empresas públicas. Mas os
grandes poluidores, os municípios, não têm nada em andamento. Tanto que a Fepam emitiu
uma portaria (087/2006, assinada em 11 de outubro) dando um prazo de 180 dias para os
municípios apresentarem uma proposta.
ZH - A falta de projeto não seria reflexo da carência de fontes de financiamento?
Ferrari - Não. Há dinheiro nacional e internacional para financiar o tratamento do esgoto
doméstico. Mas, para ter acesso a esse dinheiro, precisamos ter um projeto de longo prazo.
O que não temos, devido a problemas de continuidade nas prefeituras.
ZH - Então a solução seria a reeleição dos prefeitos?
Ferrari - A falta de continuidade não é conseqüência da troca do prefeito. O que falta é
união entre sociedade, Legislativo e o Executivo para montar um projeto de saneamento de
longo prazo cuja execução independa de quem esteja na prefeitura.
ZH - Mas a Fepam também não tem a sua parcela de culpa?
Ferrari - Tem, porque não pressionou de maneira sistemática os prefeitos da região a
resolver o problema.
(Por Carlos Wagner,
Zero Hora, 12/12/2006)