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2006-12-12
As cidades litorâneas do Brasil precisam repensar seu modelo de desenvolvimento. Para os governantes preocupados apenas em atrair investimentos e alavancar o turismo, os cientistas dão um alerta: está na hora de pensar no aquecimento global e preparar-se para os impactos que o aumento no nível dos oceanos terá na infra-estrutura.

De acordo com Fábio Feldmann, secretário-executivo do Fórum Paulista de Mudanças Climáticas, a discussão é urgente. A elevação do mar vai exigir mudanças profundas na zona costeira dentro de 20 anos. “O Brasil precisa saber quais são suas vulnerabilidades, temos que colocar este debate rapidamente na agenda dos tomadores de decisão”, diz.

Para os governantes que acham que aquecimento global é sinônimo de passar calor, o último relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) mostra que a mudança climática deve provocar um aumento que varia de 30 centímetros a 1,5 metro do nível do mar, impactando diretamente as regiões costeiras.

Com esse quadro, os governos terão uma agenda cheia. Segundo Feldmann, é preciso pensar em como será afetada a infra-estrutura, o sistema viário, as ocupações, o abastecimento de água e o saneamento. Com a elevação do oceano, os lençóis freáticos costeiros devem ser contaminados pela água salgada, inviabilizando o abastecimento. Além disso, os processos de erosão serão intensificados. “No caso da costa, teremos que pensar no nível de infra-estrutura e em estratégias para a contenção do nível do mar, como barreiras”, explica.

De acordo com Feldmann, a elevação do nível dos oceanos não ocorrerá de forma catastrófica, como um tsunami, por exemplo, mas deve ser lenta e contínua. “Será de alguns milímetros por ano”, diz. Por isso, segundo ele, o Brasil precisa investir em estudos para monitorar essas mudanças. “O estudo de vulnerabilidade vai mostrar quais são as áreas de maior risco e então poderemos incorporar esta dimensão no planejamento da infra-estrutura do país”, diz.

Como as mudanças são paulatinas e os impactos só serão sentidos em décadas, os governos tendem a empurrar com a barriga. “As pessoas têm que pressionar o governo a pensar em médio prazo, não apenas na sua gestão”, diz Feldmann.

Em Santa Catarina, ironicamente, quem está pressionando o governo para assinar o decreto que institui o Plano de Gerenciamento Costeiro é o Movimento Floripamanhã, ONG formada por empresários de Florianópolis interessados em um marco legal para regulamentar a construção de marinas e viabilizar grandes investimentos no litoral.

De acordo com Alexandre Mazzer, gerente de Planejamento Ambiental da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Social, Urbano e Meio Ambiente, o decreto deve ser assinado ainda este ano. Segundo ele, o governo estadual ainda não colocou em prática ações para mitigar os impactos do aquecimento global. “O que Santa Catarina fez foi criar um Fórum Permanente de Mudanças Climáticas, e estamos trabalhando através do Projeto Orla, recomendando que as pessoas projetem áreas de recuo nas construções” diz.

Segundo Mazzer, o Projeto Orla conta com a participação das pessoas e, como as zonas urbanizadas nem sempre estão em Áreas de Preservação Permanente e podem ser utilizadas, é difícil interferir diretamente. “Uma coisa é o trabalho técnico, outra é colocar em prática. Aconselhamos que as pessoas deixem um estoque de areia para criar mais bancos de areia no caso de o mar avançar”, diz.

Mazzer, que é oceanógrafo e estuda sobre a elevação do oceano em sua tese de doutorado, explica que já foi feita uma parceria não-oficial com a Defesa Civil para estudar a altitude das áreas de orla e saber quais são as regiões mais vulneráveis. “O Brasil não está preparado, ainda não acordou para uma elevação de nível de mar, não se tem um plano envolvendo estudos sobre saneamento, evacuação”, diz.

Entretanto, Mazzer discorda de Fábio Feldmann em relação à construção de barreiras de contenção na costa brasileira. “Para colocar barreiras teríamos um custo exorbitante, um impacto ambiental enorme na fauna e na flora, é extremamente inviável para o Brasil, envolve uma engenharia com preços astronômicos”, diz. “Essa tecnologia existe nos Países Baixos, que tem têm uma zona costeira pequena e são ricos. Para o Brasil, no caso de um quadro catastrófico, seria mais barato abandonar a costa e reconstruir as cidades do que fazer grandes obras de engenharia do vulto das barreiras de contenção”, defende.

O engordamento de praia, geralmente utilizado nas praias para favorecer o turismo, pode ser uma boa alternativa para equilibrar a erosão na costa, explica Mazzer. “É uma boa se for bem feito, não pode ser feito com sedimento contaminado, como geralmente acontece. Até hoje o único engordamento de praia que deu certo foi o de Copacabana”, diz.

Segundo ele, a medida não é suficiente para conter o oceano, serve apenas como paliativo para estabelecer o equilíbrio. “Se o mar subir devagar, pode funcionar, o importante é monitorar a areia, fazer o engordamento de cinco em cinco anos, mas isso tudo precisa de estudo, senão é um trabalho que dura 10 anos e tem que ser refeito, além de deixar a praia inclinada demais, péssima para banho”, observa.

Abastecimento
Um dos mais graves problemas que as cidades costeiras vão enfrentar com o aumento do nível dos oceanos é no abastecimento de água da população. De acordo com Mazzer, com a elevação do mar o impacto é irremediável. “Teremos que abandonar alguns aqüíferos”, diz. Segundo ele, o Estado não está preparado para substituir as fontes de abastecimento que serão afetadas.

“Não existe estrutura ainda para captar essa água, temos que pensar em uma outra forma de fornecer o abastecimento. Teríamos que mudar todos os pontos de captação, inclusive dos rios, porque a elevação no mar aumenta o nível dos rios também”, explica.
(Por Francis França, AmbienteJÁ, 12/12/2006)

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