Após o pânico, a questão: o que houve com a gripe aviária?
2006-12-12
No início de 2006, o pânico da gripe estava à toda: os franceses temiam pelo foie gras, os suíços trancaram as galinhas dentro de casa, os americanos usaram presos que cumpriam sentença no Alasca para sair à caça de aves contaminadas. Com o temido vírus H5N1 - capaz de infectar humanos - rompendo os limites do Sudeste Asiático e aparecendo em aves da Alemanha, Egito e Nigéria, parecia inevitável que uma pandemia irrompesse.
De repente, o vírus aquietou-se. Exceto pelo crescente número de casos entre seres humanos na Indonésia, o atual epicentro da doença, as preocupações de meses atrás sobre uma epidemia global de proporções catastróficas praticamente desapareceram. O que houve? Parte da explicação pode ser sazonal. A gripe aviária tende a se mostrar mais ativa nos meses frios, pois o vírus sobrevive por mais tempo em temperaturas baixas.
"Muitos de nós estão ansiosos para ver o que acontece no inverno", disse o professor de microbiologia Malik Peiris. "O H5N1 espalhou-se muito rapidamente no ano passado", lembra ele. "Então, a questão é: foi um incidente isolado?" Alguns especialistas desconfiam de que a vacinação das aves pode ter complicado a detecção do mal. A vacinação reduz a quantidade de vírus em circulação, mas níveis reduzidos ainda podem estar causando surtos, sem o sinal óbvio das aves mortas.
Embora a pandemia não tenha se materializado, os especialistas dizem que é muito cedo para relaxar. "Temos um risco muito claro adiante", diz o médico Keiji Fukuda, coordenador do programa internacional de gripe da Organização Mundial da Saúde. O sinal mais óbvio de que uma pandemia pode estar a caminho virá, quase que certamente, do campo: um aumento súbito no número de casos que sejam sugestivos de transmissão da doença diretamente entre humanos. A última pandemia ocorreu em 1968 - quando um vírus de gripe aviária combinou-se a um de gripe humana e matou 1 milhão de pessoas no mundo.
Em maio, na ilha de Sumatra, na Indonésia, um grupo de oito casos foi identificado, e seis dos pacientes morreram. A OMS imediatamente despachou uma equipe ao local, e até pôs a companhia farmacêutica Roche Holding AG de sobreaviso, no caso de seus estoques de medicamento anti-retroviral, deixados à disposição da agência para esmagar uma epidemia de H5N1, precisassem ser mandados para a Indonésia. Mas os casos de transmissão entre humanos da Indonésia ficaram confinados a uma única família. O vírus não havia se adaptado o bastante para se tornar facilmente infeccioso.
(Por Maria Cheng, AP, 11/12/2006)
http://www.estadao.com.br/ciencia/noticias/2006/dez/11/235.htm