Opinião - Ecologia bem embrulhada
2006-12-11
Sobressai a profusa difusão da consciência ecológica. Maravilha das maravilhas. Parece que, se depender só dela, o efeito estufa vai desestufar, o aquecimento global desaquecerá logo e futuro do planeta terá futuro. Ahn.
De tempos para cá, uma picaretagem altamente conceituada se escora em posturas progressistas. Produz artigos, bens e serviços que pretendem ajudar a salvar o planeta, sanar a vida. Tudo isso a cada gole, cada mastigada, troca de roupa, volta de carro. Eficiente, induz comportamentos, conduz ações, reduz culpas. Mercado não falta.
Pero, raciocine com o apetite: sanduíches e sucos naturais, legumes orgânicos, ovos caipiras, pães caseiros, bolos de cooperativa, rosquinhas da fazenda, geléias da vovó, água da fonte. Não engulo nada disso. Desconfio dessa pureza mais pura e desse saudável mais salutar. Num vupt, todos se aparelharam e têm acesso a matérias-primas especiais. Num vapt, prevalecem as melhores intenções. Taí a esperteza mais especializada que existe: a que explora o filão ecológico.
Questione com o refluxo: como tantas promessas podem não ser falsas? Quem garante os processos de produção? Quem ignora as câmaras sazonais dos supermercados? Entre os hortifrutigranjeiros e os fornecedores da "vida natural", não há nada tão cultivado quanto a desonestidade. Tanta qualidade assim não é possível. Tanta boa fé, sim.
Pense com seus botões: algodão e seda pura, fibras naturais, tecidos artesanais. Em torno das etiquetas, poses politicamente corretas, o bom senso como grife genérica; por baixo do pano, falsificações que não acabam mais, o consumidor consumido por sua própria ingenuidade consumista. E num mundo de falsas aparências, sustentam a nova era industrial, toda fake. Cidadãos criteriosos compram roupas posicionadas, como quem adquire consciência sob medida. Atitude nos tamanhos P, M, G.
Toda essa demanda do puro e do natureba não passa de trampolim para fraudes, farsas, falcatruas. Enganações mútuas. Finja que crê que o produto é sem conservantes que eu finjo que acredito que a origem é confiável.
(Por Fraga, publicado com autorização do autor, 11/12/2006)