A 25 quilômetros da avenida Paulista, sem resquício algum do glamour do principal centro financeiro do país, 600 famílias vivem em uma favela onde são escassos os serviços públicos mais elementares, como energia elétrica, abastecimento de água, coleta de lixo e saneamento. Por falta de dinheiro, boa parte delas se alimenta de porcos que comem às margens de um córrego onde é despejado o esgoto e o lixo da comunidade.
Esse é o retrato do Campo do Bahia, uma favela no município de Carapicuíba, na Grande São Paulo. Na periferia da periferia, a comunidade apresenta condições de vida degradantes, mesmo para os padrões dos bolsões de pobreza que cercam as metrópoles brasileiras: 90% das famílias vivem com menos de R$ 700 por mês (57% com menos de R$ 350 por mês). A criação de porcos na porta de casa é a maneira que muitos moradores encontram de arranjar o que comer. A solução para evitar a fome, no entanto, representa um grande risco à saúde, já que os porcos se alimentam do lixo e vivem no esgoto.
As primeiras tentativas de mudar esse quadro começaram em junho deste ano, quando um projeto aportou na comunidade. Reduto dos trabalhadores que servem a população de maior renda — os que têm emprego são na maioria motoristas, seguranças, porteiros, pedreiros e empregadas domésticas —, o Campo do Bahia agora é alvo de uma iniciativa que está tentando convencer os moradores a trabalharem também por eles mesmos. A proposta é do projeto Barraco Cor, que busca ajudar a comunidade a se organizar de maneira que possa promover e reivindicar melhorias para o lugar.
A iniciativa, coordenada pela organização da sociedade civil de interesse público Conexão, em parceria com a agência de comunicação ambiental Zen, é desenvolvida por 30 pessoas que atuam como voluntários — dois do UNV (Programa dos Voluntários das Nações Unidas); oito empresários e profissionais liberais; e 20 jovens da comunidade. Em menos de seis meses, eles conseguiram ajudar a criar a Associação de Moradores e a realizar uma pesquisa sobre o perfil socioeconômico da população. As ações tiveram o objetivo de criar as bases para a primeira grande atividade do projeto: organizar um mutirão para fazer a limpeza do córrego, conta o sociólogo Roberto Felício, coordenador-técnico do Barraco Cor.
“O projeto busca principalmente fortalecer os vínculos comunitários. Nós queremos que os moradores se organizem e tomem a dianteira das ações na comunidade. Nesse sentido, a criação da Associação dos Moradores foi uma grande conquista”, afirma Felício. Segundo ele, a idéia é que as atividades que começaram a ser desenvolvidas agora ganhem uma dinâmica que permita que elas continuem independentemente da presença dos voluntários. “A comunidade precisa se apropriar desse trabalho. Eles precisam falar: agora quem vai tomar conta disso somos nós”, defende.
O mutirão para a limpeza do córrego será a primeira ação de melhoria da comunidade que contará com o envolvimento de grande parte dos moradores. Na pesquisa realizada pelos voluntários, 93% deles se disseram dispostos a ajudar. “Conversamos com a Prefeitura, que dará apoio à limpeza. Eles vão ceder algumas pessoas, caçambas e retroescavadeira”, conta Felício. “Essa é uma maneira de fazer com que eles mesmos passem a cuidar do córrego. A Prefeitura se comprometeu a fazer a coleta e os moradores terão que deixar o lixo no local combinado”, explica.
Mas, antes mesmo do mutirão, o projeto vai organizar uma festa para comemorar as primeiras conquistas da comunidade. No sábado, 9 de dezembro, será realizado um evento para apresentar a diretoria da Associação dos Moradores e os resultados da pesquisa socioeconômica. Também será montado um palco no qual os moradores poderão fazer apresentações artísticas. O evento ainda celebrará o Dia Internacional do Voluntário (5 de dezembro).
(Por
Agência PNUD Brasil, 07/12/2006)