Clima é extremamente sensível ao efeito estufa, sugere estudo
2006-12-08
O aquecimento global, intenso e duradouro, sofrido pela Terra há 55 milhões de anos possivelmente se deveu à alta fragilidade do clima frente a emissões de dióxido de carbono (CO2), afirma estudo divulgado pela revista Science. Segundo cientistas do Departamento de Ecologia Global da Instituição Carnegie, os dados obtidos contradizem a teoria dos céticos da mudança climática, que afirmam que o clima terrestre é capaz de absorver e compensar o acúmulo desse gás, sem sofrer grandes alterações.
Cientistas já sabiam que uma enorme emissão de carbono para a atmosfera causou o aquecimento global conhecido como Máxima Termal Paleoceno-Eoceno (PETM, na sigla em inglês). Os registros geológicos mostram que o efeito estufa resultante dessas emissões causaram um aumento de cerca de 5 graus centígrados na temperatura global. Esse aumento ocorreu ao longo de 10.000 anos, e perdurou por 170.000, alterando os padrões da chuva no mundo todo, aumentando a acidez dos mares e afetando a vida animal e vegetal, nos oceanos e em terra. Mas a quantidade exata de carbono necessária para desencadear esses efeitos drásticos é incerta.
Os cientistas responsáveis pelo novo estudo usaram fósseis de plantas terrestres e de minúsculos organismos marítimos, o plâncton, para estimar a quanto carbono havia na atmosfera e na água durante a Máxima Termal. "Podemos dizer que a quantidade de carbono liberada na atmosfera e no oceano foi mais ou menos a disponível, hoje, sob a forma de carvão, petróleo e gás", explica um cientista envolvido no estudo, Ken Caldeira.
"Esse carbono aqueceu a Terra por mais de 100.000 anos. Se o clima fosse tão insensível ao CO2 como alegam os céticos, não haveria como manter a Terra quente por tanto tempo". Não está clara qual foi a origem das emissões de carbono de 55 milhões de anos atrás. Alguns conjecturam enormes incêndios florestais, ou uma erupção de outro gás do aquecimento global, o metano, a partir das plataformas continentais.
Se a causa da liberação extraordinária de carbono há 55 milhões de anos foi a destruição de matéria vegetal, os cálculos indicam que a Terra se aquece pelo menos 2,2º C cada vez que a concentração de carbono na atmosfera dobra. Se o metano - um gás que dura pouco tempo na atmosfera, e com o tempo também se converte em CO2 - desempenhou um papel importante, a situação é ainda mais grave. "Se erupções de metano realmente ocorreram", diz Caldeira, "dobrar a concentração atmosférica de CO2 aquecerá a Terra em mais de 5,6º C".
(Estadão, 07/12/2006)
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